Sunday, July 15, 2007

"Coisas"

Estás cansada, queres ir embora. Vai, desiste, não vale a pena.

Olhas para o lado e percebes quão inútil é aquilo que julgas estar a fazer, olhas para o lado e percebes que aquilo não diz nada a ninguém. Ninguém se importa, ninguém quer saber, ninguém da importância a nada. Que fazes tu então?

Remas contra a maré. Desiste. Não vais chegar lá.

E ninguém percebe o que estás a fazer, e ninguém concorda, e ninguém quer saber. Não tem nexo, dizem uns, é demais, dizem outros, é sempre qualquer coisa de irracional e incompreensível. E tu que queres? Pelos vistos não importa...
Já nada significa nada, e o que significava deixou de significar. Reduziram tudo aquilo em que quiseste acreditar a uma insignificância incontestável, destruiram tudo sem preocupação ou noção de responsabilidade.

Desiste. Porque te cansas? Já não vale a pena. Queres? Não queres? Mas porque ficas?

Não desistes, não vais desistir. No fundo, ainda há esperança que alguém abra os olhos, ainda há esperança na coragem, ainda há alguma coisa menos insignificante. Sabes que vão estragar tudo outra vez, sabes que vão continuar a tentar tirar-te a vontade, sabes que vai haver sempre aquela Criança Grande a confundir tudo, sabes que não vai ser fácil, mas que piada teria a vida se fossem tudo almoços grátis?

Estás cansada, querias ir embora. Estás exausta e revoltada e zangada com o mundo. Querias vingar-te de todas as Crianças Grandes, de todos os condutores de “Mini’s” por esse teu mundo fora, de todos aqueles que não percebem nada nem querem perceber, enfim, hoje era, para ti, bom dia para por fim às Crianças Grandes!

Mas amanha é outro dia, e amanha já tudo vai fazer sentido outra vez (mesmo que arruínado poucas horas depois), e já tudo vai valer a pena outra vez, e já tudo vai ser isto ou aquilo ou isto e aquilo que era suposto ser. Amanha, com sorte, até almoças de graça!

Como tu me fazes falta!

“Se uma voz nos diz que é viver em vao
Pra que raio fiz eu esta cancao
E se o fim é certo
Eu quero estar ca amanha”

Thursday, June 28, 2007

Alma Penada

Olho para ela e sinto pena. Pena da vida miserável que ela pensa que leva, pena de todo aquele teatro cínico e angustiante, pena do esforço que é para ela acordar todas as manhas. Sinto pena dela, mesmo sabendo que ter pena de alguém é talvez o sentimento mais miserável que se pode ter pelo próximo. No entanto, não consigo ir para além da pena, da tamanha pena que sinto por ela.

E todos os dias se levanta a queixar-se, e todos os dias tudo corre mal, e todos os dias vão ser piores que o anterior, que já de si foi tão mau, e todos os dias são trágicos e arrebatadores, e todos os dias pede a deus que o dia corra bem, e todos os dias deus a desilude com o dia a ser igual ao anterior. Todos os dias o ar carrancudo é o mesmo, todos os dias a vontade de (não) viver é a mesma, todos os dias a indiferença por aqueles que a rodeiam é a mesma, todos os dias são dias não. E todos os dias ela fala com as mesmas pessoas, a quem faz as mesmas perguntas e dá as mesmas ordens. Todos os dias.

E eu todos os dias olho para ela, e todos os dias falo com ela, e todos os dias lhe respondo ás mesmas perguntas que ela me faz todos os dias, e todos os dias me vou deitar com o mesmo sentimento de indiferença com que acordei. Todos os dias.

E todos os dias eu queria sentir mais, queria gostar mais, queria ter mais saudades, queria viver mais, queria tudo aumentado exponencialmente no que toca ao meu relacionamento com a minha alma penada. Todos os dias gostava que ela fosse diferente, e me contasse coisas divertidas sobre todos aqueles mundos em que eu nunca vivi, e que me fizesse estupidamente as vontades, e que gostasse de estar comigo e de me ver, e que se risse de vez em quando se não fosse pedir demais, e que a vida não lhe custasse tanto, e que fosse essas coisas todas que é suposto os avós serem. Todos os dias, eu só queria que aquela avó fosse uma avó de verdade.

Tuesday, April 24, 2007

Onde Estás?

Perdemo-nos.

Algures a caminho dos sonhos, pelo meio das ambições e das expectativas não nos conseguimos voltar a encontrar.

Hoje, há ali um vazio que dificilmente vai voltar a ser preenchido. Hoje já não há conversa, nem confiança, nem intimidade, nem tão pouco vontade. Hoje só nos prende a saudade do ontem. Hoje acaba tudo.

Costumávamos ser as melhores amigas. Costumávamos viver para as mesmas coisas. Costumávamos ter amigos em comuns, e vivências em comum, e vidas em comum. Costumávamos ter sempre assunto, e sempre coisas para fazer, e sempre vontade de estar juntas. Hoje já nada passa de um passado distante, de coisas que queríamos mas deixamos de querer, de amizades diferentes que fomos fazendo e perspectivas que fomos formando. Hoje não passa de um vazio, de conversas sobre o tempo e sorrisos forçados durante um serão falso acompanhado por café.

Tu não percebes como deixei tudo para trás e me fui embora. Não percebes porque não me alicia a perspectiva de uma vida inteira vivida em Portugal, não percebes porque quero mais, não entendes como gosto de estar fora de casa, nunca vais conceber a perspectiva de aos vinte anos se ser independente! Não te cabe na cabeça o distinguir a minha casa da casa da “minha mãe” ou do “meu pai”, nem perceber porque é que não é tudo na vida ter comida feita e roupa lavada.

Eu não percebo como só gostas dos lugares comuns. Não percebo como é que achas que aos vinte anos já conquistaste tudo, e não queres muito mais. Para mim, aos vinte anos está-se longe de ter encontrado a felicidade plena! Não consigo entender qual é o fascínio pelos lugares comuns, pelas pessoas conhecidas, por entrar num sítio “chique” e fazer parte da mobília. Não percebo a necessidade dessa vida social falsa, com pessoas falsas a viver numa falsa realidade. Não percebo o problema de se ser genuíno, e viver espalhafatosamente, se for preciso. Não percebo a falta de desejo, de ambição, a falta de vontade de mudar o mundo e viver outras realidades. Eu, mas devo ser só eu, não percebo a inércia.

Hoje, és uma desilusão. És vazia, e insignificante, e mesquinha até. Vives num mundo em que pelos vistos as melhores amigas oficias são as pessoas que consideras que te vão roubar o namorado (e deverei considerar-me lisonjeada por me achares uma concorrente à altura.?!). Já não sabes o que são amigos, confiança, solidariedade e coisas que tal. Hoje já não há conversas, nem intimidadas, nem pontos em comum.

E de pensar que um dia, há não muito tempo, fomos as melhores amigas.

Tenho saudades tuas. Tenho genuinamente saudades do “tu” que eu conhecia. Eras especial. Eras a minha amiga especial.

Hoje, morreste.

Hoje, és só tu.

Monday, April 02, 2007

voltaste

Voltaste.

Voltaste a Portugal, voltaste ao Porto, voltaste a Lisboa, voltaste aos sitios que em princípio te dizem alguma coisa.

Voltaste a ver os avós, e os tios, e os pais, e os amigos, e o irmão, e o namorado, e as amigas, e o esquilo, e tudo mais.

Voltaste.

Voltaste e mais uma vez tudo mudou. Confunde-te, certo? Irrita-te que não possa ficar tudo na mesma! Indigna-te tudo aquilo que mudou, espanta-te tudo aquilo que deixaste por fazer, desespera-te que o tempo nunca seja capaz de parar, nem por um bocadinho, só para te deixar respirar. É estranho, lá nisso tenho de concordar contigo! São até por vezes complexas as mudanças a que nem tens tempo de te habituar, mudaram algumas coisas que tomavas por certas, escapam um bocadinho mais os velhinhos que tu só querias que ficassem cá eternamente, mudam os amigos que se pensam eternos... É efectivamente demais!

Voltaste e esquecestete por um momento de que também tu já não és a mesma desde a última vez que partiste, ignoras o facto de também tu teres começado a ambicionar coisas um bocadinho diferentes, menosprezas o facto de a vida ter que continuar o seu rumo natural, e nem queres pensar nos anos que foram passando entretanto...
Sim, porque bem visto é uma injustiça! Lá isso tem de ser dito!

Porque os velhinhos podiam ficar sempre bem, e estarem sempre lá para nos fazerem as vontades, porque quem disse que chega a uma altura em que já não precisamos de um avós que nos façam as vontades estava muito enganado! Porque os amigos podiam crescer sempre comnosco e acabar por seguir um rumo parecido com o nosso, e não nos deixarem em situações complicadas como despedidas e coisas que tal! Porque podia continuar tudo igual em “casa”, e a “casa” podia continuar a ser nossa! Porque podias viver uma vida de malas feitas mas teres o prazer de manipular o tempo para que este esperasse por ti, só um bocadinho! Enfim...

Voltaste.

Voltaste tu aos sítios que julgavas conhecer! Mas voltaste só tu, porque os sítios, esses, parecem estar felizes assim, sem ti!

Monday, March 26, 2007

A ti, a quem nunca dediquei nada!

Somos hipócritas em tudo o que fazemos. Somos cínicos até ao fim. É demasiado complicado sermos de outra maneira. E mesmo aqueles que acham que sim, que faziam, e que eram, e que aconteciam, acabam sempre por cair por terra e não fazer nada.

Supostamente não compensa termos inimigos, não compensa dizer-mos as pessoas aquilo que pensamos delas, não compensa agirmos consoante os nossos ideais e as nossas perspectivas. Simplesmente, não compensa.

E quando compensa é porque não é bem assim. Quando compensa é porque não estamos a ver bem a situação, e se estivessemos na outra posição iriamos ver como não compensa. Só compensa quando não se passa comnosco.

E vamos vivendo (bem?!) neste mundo de hipócritas e cínicos, em que todos fazemos de conta que gostamos daquilo que não gostamos, e que somos aquilo que estamos longe de ser, e que ambicionamos tudo aquilo que nem sequer nos alicia. Há quem lhe chame sobrevivência.

Mas tu não! Tu vives acima disso, e és tu que fazes com que todos os outros queiram ser assim. Tu és mais do que isso, e não te submetes a essas coisas mundanas. Tu tens inimigos e vives com eles, porque sabes que tens amigos que estarão sempre lá para para impedir as facadas. Tu já não te importas, já não queres saber! Tu és tu acima de qualquer outra coisa! E eu, eu limito-me a orgulhar-me de ti...

"did I ever told you I love you?"

Thursday, March 22, 2007

Pequenina

Olho para ti todos os dias, e no entanto ainda não tive coragem de ir falar contigo outra vez. Olho para ti porque estás espalhada por todo o lado na minha parede, porque não há fotografia daqueles tempos que tu não pertenças lá, porque aconteça o que acontecer vais continuar sempre a ser a minha amiga!

E no entanto, sinto-me mal, verdadeiramente egoísta e comodista, quando vou ter contigo, e estou contigo, e falo contigo, e tu já não és tu! E eu queria que tu fosses tu, e eu queria que me dissessem que havia hipóteses de voltares a ser tu, e eu queria chegar lá e puder abraçar-te e falar contigo e contar-te todas as coisas parvas se passaram no último ano (e quase meio). Mas sempre que vou ter contigo, limito-me a ficar feliz, e acredita que fico genuinamente feliz, por gostares de me ver, e de estar comigo, e de saberes (penso eu) que eu ainda não me esqueci de ti!

Desculpa não ter sido a amiga que devia ser. Mas custa-me perguntar por ti, e saber que no máximo falo dois minutos contigo e ficas cansada, e eu sei que estás muito melhor, mas eu queria é que estivesses de volta! Desculpa ser egoísta, mas fazes falta! E cada vez que estou contigo, e sempre que posso estou contigo, cada vez que te vejo diferente, numa luta constante para voltares a andar, e a escrever, e a pensar, lembro-me do tempo que vai demorar a estares de volta, e da falta que nos fazes.

É mais fácil viver na ilusão, olhar à volta, enterrar a cabeça na areia, e fazer de conta que não houve nenhum acidente, e que ainda nada mudou...

Tenho saudades...

Tuesday, March 13, 2007

Ana Maria e os Cinco Anos

Ana Maria tinha cinco anos. Só cinco anos, e nada mais do que cinco anos. E como era bom ter só cinco anos! Ana Maria gostava de amarelo, sem isso querer dizer mais nada sem ser que ela gostava de amarelo, era amiga da Joana, sem isso querer dizer que não podia ser amiga da Francisca, queria ser professora, astronauta ou jornalista, e ninguém lhe perguntava se ia ter saídas profissionais, e entre todas as certezas que tinha, a mais certa delas todas era que os pais eram os melhores do mundo!

Porque aos cinco anos não há nada como os pais. Os pais podem ser egoístas, egocêntricos, desnaturados, queridos, amáveis, atenciosos, ou mesmo maquiavélicos que são todos adorados da mesma maneira.

Porque aos cinco anos os amigos são todos iguais. Pode haver uma ligeira preferência por este, ou por aquele, mas os interesses ainda são todos os mesmos! Os amigos ainda gostam todos das mesmas brincadeiras, os amigos ainda acham que vão ser sempre amigos, os amigos ainda vivem todos de sonhos e ilusões.

Porque aos cinco anos, ter uma mão cheia de anos é a coisa melhor do mundo. Aos cinco anos, puder dizer que já temos tantos anos como cinco, é só por si sinal de uma enorme responsabilidade! E somos importantes, e somos independentes, e somos senhores e senhoras dos nossos narizes, e somos especiais, e somos isto e aquilo porque temos cinco anos!

Porque aos cinco anos o mundo é preto e branco. Aos cinco o Sonic é bom e o Dr. Robotnik é mau. E não há cinzentos confusos pelo meio, nem complicações nenhumas para atrofiar o sistema nervoso! Tudo faz sentido, e quando não faz há sempre uma saia atrás da qual nos podemos esconder e sentir-nos seguros, porque temos cinco anos!

Porque aos cinco anos não há crises amorosas, nem noites de Ben & Jerry, nem relacionamentos complicados.

Porque aos cinco anos somos todos uns génios ainda com algumas esperanças de virmos a ser compreendidos!

Ana Maria tinha cinco anos. E como eu não dava qualquer coisa por aqueles cinco anos!

Wednesday, March 07, 2007

Sobrevive

Não tinha sido um erro. Não tinha sido uma vez. Não tinha sido inocente. Não tinha sido “só” por causa de uma noite de loucura, de uma bebedeira ocasional, de um flirt numa noite de desespero. Não.

Foi planeado, foi pensado, foi deliniado ao mais pequeno promenor para que não fosse descoberto. Foi escondido, foi meticulosamente articulado para que todas as partes envolvidas não fossem de modo algum afectadas num futuro próximo. Foi inimaginávelmente bem feito.

É mentira que fazemos tudo pelo próximo. É mentira que as pessoas ficam juntas para sempre. È mentira que a esperança é a última a morrer. Quantas vezes já não presenciamos todos momentos em que a esperança morre e ainda há tanta coisa viva?

Morreu tudo. Morreu o desejo de querer voltar a ver tudo bem. Morreu a vontade de sentir saudades. Morreram todos os sonhos. Morreram todos os caprixos. Morreu a vontade de sentir seja o que fôr. Morreu isto, e aquilo, o que veio e o que estava para vir. Morreu tudo.

E agora? Como e que volta a haver esperança, e desejo, e motivação, e vida?

Sou pequenina, não tenho respostas. Não sei sequer se quando for grande as vou ter! Mas tenho a certeza que há coisas que valem realmente a pena. Há mesmo tantas coisas que valem a pena... E apesar de não estar aí para te pegar na mão e mostrar-te como tudo vai ficar direitinho, apesar de não puder ser eu a levar-te até la, apesar não ser eu a pessoa que tem as respostas, apesar de não saber sequer como é que tudo se vai resolver, eu tenho a certeza que ainda há muita coisa que vale a pena, e acima de tudo que tu vales a pena!

Não desistas. Nunca desistas.

É tudo uma questão de sobrevivência.

Monday, February 26, 2007

Maldita Sociedade Capitalista!

A sociedade capitalista desiludiu-me mais uma vez... Pois é! Eu, trabalhadora nata, que não fiz outra coisa hoje senão queimas as pestanas (ou quase) e comer leite com cereais (que já não há nada no frigorífico), merecia pelo menos ter o prazer de ver os Óscares! Mas não...só passam na Sky Movies vejam lá!

É com esta especial raiva à sociedade capitalista, que só passa este programa de uma intelectualidade profunda nos canais pagos da tv-cabo (sky), que me vou deitar depois de ter escrito 2500 palavras para um essay com um limite de 2000!

Sobra-me portanto a antena 3...posso não ficar a saber nada do que se passa na academia, posso não ouvir nada do que se está efectivamente a passar, mas ficarei certamente ilucidada com as opiniões muito opinativas dos comentadores! Enfim...

(mas agora nem isso...problemas técnicos estragaram de vez a emissão! Enfim...hoje não é mesmo o meu dia...)

Monday, February 19, 2007

Então, os almoços?



Será que tenho verdadeiramente saudades de casa?




É claro que tenho saudades de me sentir pequenina, e de me sentir segura, e de experiênciar aquele “uff, cheguei a casa”, e de me sentar no sofa e finalmente fechar os olhos, e de ouvir alguém chamar-me para jantar e não haver surpresas desagradáveis porque a comida é feita pela mãe, e de um quarto a que posso egoísticamente chamar “o meu quarto”, e de discutir com o meu irmão, e de ter um irmão, e de adormecer com um beijinho de boa noite.

Mas a questão mantêm-se, será que tenho verdadeiramente saudades de casa?

Porque tenho saudades das facilidades, e tenho saudades dos mimos, e tenho saudades dos elogios e do apoio, e tenho saudades da cumplicidade, e tenho saudades dos lençois passados a ferro, e tenho saudades da companhia, e tenho saudades daquele abraço.

Mas será que isso é que é ter verdadeiramente saudades de casa?

Ter saudades da preguiça matinal, ter saudades de ter de sair do banho rápido porque vem um irmão a seguir, tenho saudades de ouvir porque sou desarrumada, ter saudades de chegar a casa depois de umas férias bem passadas, ter saudades de me sentir em casa.

São portanto verdadeiras saudades de casa?

Não sei.

E ja achei que sabia que não. E já achei que sabia que sim. Hoje simplesmente não sei.

E tanto como trocava tudo aquilo que consegui até agora por voltar para as facilidades e o conforto de se estar em casa, como não conseguia deixar esta minha nova casa. Porque não tenho pais, nem irmão, nem família, mas tenho amigos, e abraços, e confusão, e saudades quando eles se vão embora (mesmo que seja só por uma noite), e muitas coisas boas para partilhar quando eles voltam, e um conforto especial quando entro pela porta e me sento no sofá e sei que não estou sozinha. Também gosto da minha nova casa.

Tenho saudades de não ter saudades de alguma coisa. Tenho saudades do tempo em que não se tinha de deixar uma coisa para conseguir outra. Vou sempre ter saudades, e dizem que truque está apenas em conseguir viver, e bem, com elas. Mas eu, eu não acredito nisso, eu sei que o que o truque são almoços grátis!

Sunday, February 18, 2007

Para acabar com todas as críticas!


Todos os visitantes do nosso bunker, de uma maneira ou outra, se vêm a cansar da maneira como organizamos as coisas por cá, e eu, como maneira de combater complexos de inferioridade ou uma ida ao psicólogo passo a explicar o que se passa aqui pelo bunker da canterburia!

Como a independência é um momento de grande complexidade, a cambada aqui de casa (constituída por três adolescentes irreverentes) decidiu que tinha de a viver com convicção! Como cambada de intelectuais que somos aqui em casa, e historiadores acima de tudo, decidimos que era preciso contribuirmos alguma coisa para o bem da humanidade. Sim, porque há que ver que se não for aos 20 anos que se pensa que é possível mudar o mundo, quando há-de ser? Portanto, transforma-mos o nosso bunker num autêntico laboratório. Apesar de ser uma experiência em principio altamente confidencial, sinto-me forçada a abrir mão de algumas informações.

A nossa primeira decisão foi a criação de um microclima. Não é de forma alguma porque ao fim de seis meses ainda não sabemos controlar o aquecimento, como pode ser suposto por alguns ignorantes, que vivemos neste calor intenso durante várias horas do dia! É importante estudar-se o aquecimento global, e que forma mais eficaz do que testarmos isso em laboratório? Os resultados até agora não têm sido nada maus...algumas doenças devido à súbita mudança de temperatura quando se saí do microclima, mas nada que não se resolva quando o aquecimento se tornar global!

Outra decisão importante foi a de finalmente ficarmos a perceber o motivo do grande fracasso da polícia secreta alemã. Sendo uma das polícias com o melhor sistema de recolha de informação do mundo, é curioso, no mínimo, como é que tal sistema pôde falhar. Como papel era demasiado caro, decidimos fazer a mesma experiência com roupa. Ora bem, a fotografia é uma boa ilustração do que aconteceu à policia alemã, com o excesso de informação recebido de uma forma súbita, ao fim de algum tempo, eles já não sabiam para onde é que se deveriam virar e resultou no caus! O estudo deixou os residentes muito mais informados quanto à questão.

Há, claro, mais experiências a decorrer a toda a hora, mas seria demais da minha parte partilhar ainda mais informação! Posso é desde já garantir que o estado vazio do frigorífico não tem nada a ver com o estado económico dos estudantes (e do estúpido valor a que está a libra), é só um estudo enriquecedor sobre a fome do mundo - porque só a percebe realmente quem passa por ela! Ah, e a falta de luz no corredor é obviamente uma homenagem ao Benjamim! Sem poder deixar de referir que a montanha de pratos sujos na cozinha tem óbviamente a ver com a nossa próxima experiência de comprovação da eficácia de uma gotinha de Fairy...

E, enfim, ainda há quem tenha a real lata de chamar a isto desarrumação...!

É só importante relembrar que todas as experiências são efectuadas sob a vigilância de pessoal especializado, pronto a intervir em caso de catástrofe. Não é nada, mas é de acreditar que é mesmo nada, aconselhável experimentar isto em casa...

Saturday, February 10, 2007

se há escolhas, que seja eu a escolher!

Odeio escolhas. E não me importo que digam que as escolhas são a parte mais importante das nossas vidas, ou que temos sempre que escolher alguma coisa, ou até mesmo que a nossa sem vida sem escolhas não faz sentido. Odeio escolhas, pronto! É assim tão mau?

Não gosto de ir ao restaurante e escolher aquilo que vou comer, não gosto de conflitos amorosos em que chega a uma altura em que tem que haver uma decisão, não gosto de escolher aquilo que vou querer fazer até ao fim dos meus dias, não gosto de decidir aquilo que vou fazer para jantar, não gosto de decidir se vou ou não finalmente passar a roupa a ferro, não gosto de ter de escolher que partido é que eventualmente vou ter de tomar numa discussão entre amigos, não gosto de enfrentar a escolha entre fazer aquilo que estão à espera que eu faça, e fazer aquilo que quero! Enfim, não gosto de escolhas!

O mais irónico da questão é contudo que, à parte do restaurante, e pronto, o que fazer para jantar, e mesmo aí há muitas excepções, não gosto que escolham por mim!

É desgastante, e frustrante, termos de decidir aquilo que vamos fazer. Decidir que não queremos voltar para “casa” e que vamos subitamente mudar de continente, de vida, de tudo, porque simplesmente é preciso! Decidir que afinal escolhemos o curso errado, e chegou a altura de voltar atrás e fazer uma nova tentativa! Decidir que fomos efectivamente incorrectos com um amigo, e temos de lhe pedir desculpa! Decidir que não passar os pijamas porque eles vão ficar necessariamente encorrilhados é demasiado “last season”, e que temos finalmente que pegar no ferro!

Mas pior que decidirmos isto, é enfrentarmos as nossas decisões, por mais pequeninas que elas sejam! Sim, porque até decidir que queremos começar a passar os pijamas dá trabalho, pegar no ferro, perder tempo com isso, e perceber que passar a ferro até tem alguma ciência! Enfrentar os pais quando lhes “pedimos” para não voltar para casa, e deixar tudo para trás, porque é preciso ficarmos a saber se somos capazes ou não, e arriscar tudo, e até mesmo em alguns casos “ter mais olhos que barriga”, e não se saber mesmo como é que se vai chegar ao fim daquele ano sem pais, sem os amigos que conhecíamos, sem a “casa” é complicado. Ter a coragem de voltar ao primeiro ano, embarcar num curso que ninguém percebe bem, e é tudo muito confuso, e indefinido, e ter pela primeira vez de sentir o peso da responsabilidade associado a todas as escolhas importantes. Sermos capazes de sair da nossa pequena “bolha” e compreendermos que às vezes também estamos errados, e às vezes mesmo naquelas pequenas coisas que se calhar aparentemente não têm importância nenhuma, um amigo tem de saber estar lá e pedir desculpa.

E quando vamos a meio das decisões e parece que nada corre bem? Quando o pijama afinal estava demasiado seco, e as encorrilhas não saem, e ninguém passa nada a ferro e por isso não há aparentemente solução para o problema?! Quando julgamos que o pior seria enfrentar os pais, e conseguir a confiança deles para sair de casa, mas afinal o problema está mesmo em subir aquela montanha que parece nunca mais acabar, e já não conseguimos pensar em mais nada senão desistir, porque chegar ao fim parece definitivamente impossível?! Quando afinal ter de compreender casos em inglês arcaico se prova mais difícil do que aquilo de que era esperado, e é preciso mais trabalho, e mais dedicação, e ainda mais estudo, e tudo aquilo que se calhar neste momento nem estaríamos dispostos a dar, porque às vezes já não temos mesmo mais por onde dar, mas o peso da responsabilidade está sempre lá para nos pôr um peso na consciência?! E quando vamos a meio do discurso e descobrimos que, e agora que verbalizamos, o assunto era bem mais sério e o pedido de desculpas bem mais difícil?!

Mas no fundo, e apesar de nem tudo correr bem pelo caminho, há muitas coisas que vão ajudando, e alguma coisa de boa irá eventualmente resultar. Mesmo que não seja há primeira que o pijama fica passado a ferro, as probabilidades de tudo resultar numa próxima são efectivamente maiores. Mesmo que não haja pais, nem os amigos que conhecíamos ali ao lado, há novos amigos, e velhos amigos que vão ficar sempre lá, e familiares que nos surpreendem, e trabalho, sim, muito trabalho, mas também quem motive e nos mantenha confiantes nos objectivos. Mesmo que o inglês arcaico não seja simpático, há sempre a convicção de que a escolha foi nossa, e que alguma coisa de boa há-de eventualmente sair dali! E quanto aos amigos, por mais difícil que seja, mais tarde ou mais cedo são sempre eles que estão lá para nos dar a mão.

E ao fim do dia, quando o desafio foi cumprido, e a decisão já teve a importância que tinha de ter, é bom olhar para trás e ver que nem tudo foi mau. É bom sentir que fomos donos de nós próprios, e que tomamos as nossas decisões, e que nos mantivemos por elas e defendemos as nossas convicções, e acima de tudo fomos nós. E mesmo que algumas delas tenham sido mal tomadas, e outras pudessem ter sido melhores, há sempre aquelas que nos deixam orgulhosos e reconfortados. E continuo sem gostar de tomar decisões, mas já que é facto que elas existem, vou querer ser eu a toma-las! E tenho a certeza que, um dia, só o simples facto de puder olhar para trás e respirar fundo no fim de uma nova tarefa, vai valer a pena!

Até lá, visto as minhas calças de pijama encorrilhadas, e regresso à minha dissertação de “direito contratual”, sem nunca negar que mal posso esperar pelo dia em que vou olhar para trás e pensar: consegui!

Thursday, February 08, 2007

Ao teu segredo

Eu tenho um segredo.

Tenho um segredo que não é meu, nem devia estar comigo, mas deram-mo para guardar e eu agora não sei o que faça com ele.

Não gosto de segredos. Não gosto de ter segredos. Não devias confiar em mim um segredo, simplesmente porque eu não o quero. Fica com ele! Podes-mo dar, talvez um dia, quando ele já não for segredo.

Se é um segredo, é porque tu não queres que se saiba, e se tu não queres que se saiba, é porque é alguma coisa que não se deve saber, e se não se deve saber o que te faz crer que eu o quero? Mas pior que ele ser segredo, é saber do segredo. Se eu não soubesse dele, e tu nunca mo tivesses dado para eu guardar, hoje era um eu muito mais feliz, e sem segredo.

Acho que vou começar a delinear a minha vida antes do segredo e depois do segredo. Não que antes do segredo a minha vida fosse extraordinariamente diferente de depois do segredo. Não que antes do segredo eu soubesse alguma coisa que não saiba depois do segredo. Não que antes do segredo eu quisesse alguma coisa que não quero depois do segredo. Mas ao menos antes do segredo, eu não tinha que olhar para ti todos os dias e pensar, “eu sei o teu segredo”.

Porque há segredos que não se contam sabias? Há segredos que são segredo porque se todo o mundo soubesse deles, ia entrar em desatino, e ninguém quer um mundo desatinado! Há segredos que se não fossem segredo, iam deixar alguém triste, e alguém feliz, e alguém indiferente, e alguém constrangido, e alguém revelado. E será justo revelarmos alguém que não quer ser revelado?

Eu não queria saber do teu segredo. Não queria mesmo. E agora que sei do segredo que não queria saber, sei que todos os dias me vou deitar a pensar que o segredo está lá, e sei que todos os dias o segredo me vai lembrar que ainda está lá, e sei que quando o segredo adormecer é só para depois acordar e me relembrar que ainda lá está.

Eu não queria saber do segredo que tu me quiseste contar. Mas se me quiseste contar o segredo, mesmo que se calhar não fosse teu o segredo para mo contares, eu vou respeitar isso, e vou dizer ao segredo que eu preciso de ser eu para além do segredo, e sei que um dia ele vai perceber isso.

Desculpa. Desculpa não querer o segredo que tu tão desesperadamente me quiseste contar. Desculpa não conseguir compreender o segredo, deve haver segredos que são mesmo assim, incompreensíveis. Desculpa não conseguir desculpar ao segredo o facto de ele existir.

Talvez um dia...

Wednesday, January 31, 2007

"Perfect"

“Sometimes is never quite enough
If you're flawless, then you'll win my love”

Não te peço nada a não ser que sejas aquilo que não és. Não te peço nada a não ser que sejas o melhor em tudo aquilo que fazes. Não te peço nada que não seja a tua única obrigação na vida. Não te peço nada que já não estivesses à espera. Não te peço nada a não ser aquilo que quero ver feito.

“You've gotta try a little harder
That simply wasn't good enough
To make us proud”

Não há espaço para deslizes. Não são compreensíveis inseguranças. Não existe nada impossível. Não podes desistir. Pensas que é só temporário, há-de haver uma altura em que estás responsável por ti, essa ideia reconforta-te. Mas, e desde o momento em que escolhes o caminho que queres seguir, e especialmente a partir da altura em que tentas assumir o controlo da tua vida e separar-te de tudo aquilo que impunham sobre ti, desde o momento em que tentas fugir a convenções e expectativas, apercebes-te que estás demasiado preso a tudo isso para te deixares ir. As expectativas não são controláveis, e desde o momento em que expectativas são criadas falhar é inaceitável. E se por acaso falhas?

“Don't forget to win first place
Don't forget to keep that smile on your face”

Não falhas. Tu não falhas. Não foste feito para falhar. Se há alguma coisa que uns escassos anos de vida te conseguiram ensinar é que não há lugar para falhas.

“I'll live for you
I'll make you what I never was
If you're the best, then maybe so am I
Compared to him compared to her
I'm doing this for your own damn good
You'll make up for what I blew”


Falhei. E agora? E agora vive com o facto de que tudo aquilo que os outros esperavam de ti, passou a ser aquilo que tu achas aceitável para ti. E agora aprende a viver com a desilusão. Ego? Autoconfiança? Chama-lhe o que quiseres. Construíste um mundo de expectativas à tua volta, construíste tudo aquilo de que estás desesperadamente a tentar livrar-te de, a culpa é tua. Não queres alimentar esperanças, não queres cultivar expectativas, mas vives para elas.

“We'll love you just the way you are if you're perfect”

Não consegui. Não deu. Acontece. Ainda estás aí? Quero os meus sonhos, e as minhas próprias expectativas, e viver bem comigo, e aprender a viver com pequenas falhas, e saber as coisas a que eu quero realmente estar à altura de, e viver a vida por aquilo que eu sempre quis, e não ter medo que já aí não estejas se eu falhar.

No fundo, sei que este momento é o ideal para me começar a livrar de tudo aquilo que construí. No fundo sei que chegou a altura de te enfrentar. Mas agora, e enquanto espero pela coragem que parece tardar a chegar, reconforta-me a ideia de, aconteça o que acontecer, eu ir ter sempre os meus separadores transparentes.

30.

Monday, January 15, 2007

Simplesmente Independente

O independente é aquele que não se importa.

O independente é aquele que finge que não sente a falta, que não tem saudades, que não gosta de ninguém o suficiente para derramar uma lágrima em caso algum.

O independente não precisa de afecto, de atenção, de amigos, de confidentes, de ninguém.

O independente é arrogante, é altivo, é enfim, independente.

E o triste é pensar que no fundo somos todos uns pseudo-independentes! Porque ser independente é que é socialmente aceitável.

É independente aquele que vive em casa dos pais até mais não, mas sai sempre que quer, até tem carro veja-se bem, e trabalha, e sustenta-se, e tem amigos mas não depende deles, e até é capaz de ter um namorico qualquer (mas nada que lhe tire o sono porque é, enfim, independente).

É independente aquele que acha que tudo o que é “fashion” é mau e por isso intitula-se de “alternativo”. Tem a mania que o preto é que não está na moda, e por isso é a única cor a ser usada. É anti-social, mas dá-se com todos aqueles que se auto-intitulam de anti-sociais porque isso sim é que é ser-se independente. Não gostam de ninguém, não dependem de ninguém, são genuinamente independentes.

É independente aquele que foi estudar para fora e já não vive em casa dos pais. Tem amigos porque viver fora de casa requer arranjar-se alguém com quem viver. Sai a noite, e é social, e conhece muita gente, mas depender de alguém? Jamais! É independente porque já não vive em casa, e isso sim é a independência!

Somos um bando de mascarados!

No fundo dá vontade dá gritar ao mundo que dependemos de alguém, que se não são os nossos pais, é o namorado, se não é o namorado é a amiga, se não é a amiga é o irmão, ou o primo, ou o que lhe quiserem chamar. É alguém. Todos precisamos de, pelo menos, alguém.

Mas não é socialmente aceitável termos saudades de todos os amigos que fomos perdendo pelo caminho, e mesmo que tenhamos saudades deles, não é socialmente aceitável exteriorizar tal sentimento. E porquê? Porque somos todos perfeitamente Independentes!

Deixa-te de coisas, torna-te Independente!


...e provavelmente nunca hás-de ler isto...logo tu, mascarado por excelência num meio em que tudo o resto é aniquilado!...