Thursday, November 30, 2006

Dos 71 anos sem Fernando Pessoa



"Deixai-o passar, gente do mundo, devotos do poder, da riqueza, do mando, ou da glória. Ele não entende bem disso, e vós não entendeis nada dele.

Deixai-o passar, porque ele vai onde vós não ides; vai, ainda que zombeis dele, que o calunieis, que o assassineis. Vai, porque é espírito, e vós sois matéria.

E vós morrereis, ele não. Ou só morrerá dele aquilo em que se pareceu e se uniu convosco. E essa falta, que é a mesma de Adão, também será punida com a morte.

Mas não triunfeis, porque a morte não passa do corpo, que é tudo em vós, e nada ou quase nada no poeta"
Almeida Garrett (Advertência a Folhas Caídas Janeiro - 1853)

Aniversário


"Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos?
Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos. "
Sebastião da Gama (1953)
...parabéns...

Tuesday, November 28, 2006

A vingança é um prato que se serve "tal qual" salada russa

“Little, vicious minds abound with anger and revenge, and are incapable of feeling the pleasure of forgiving their enemies”
Earl of Chesterfield

Cresci a ouvir que “a vingança é um prato que se serve frio”, e acho que é do consentimento geral que esta expressão sempre soou muito “posh” e como tal altamente apetecível.
Cresci portanto a idolatrar esta expressão, e nem um livro oportunista me fez achar que tal afirmação era um bocado...enfim, ultrapassada.

Como “é de pequenino que se torce o pepino”, esta doutrina começa a ser ensinada desde cedo aos mais novos, que acredito genuinamente que sejam os únicos que a elevam ao seu real estatuto. Assim, é natural que ao primeiro episódio de “ficaram-me com as minhas barbies”, a criança ponha logo os seus neurónios a funcionar, e, lembrando-se bem da doutrina, é óbvio que a “ladra” não espera pela demora! Portanto, quando as “cassetes da disney” não voltam ao destinatário, este já não se pode queixar porque se assume automaticamente que, e tendo sempre em conta a doutrina, a vingança é um prato que se serve muito frio! E às vezes, como neste caso, cai um bocado mal...

No entanto, e passada a idade da genuína inocência, chega a fase da genuína estupidez. Como seria de esperar, não há idade do armário que não traga com ela umas “vingançazitas” (às vezes bem merecidas), mas é de reparar que a doutrina continua muito bem implementada, mas desta vez tendo o seu significado mudado um bocadinho. Ora bem, estando eu a gozar o meu último ano de “adolescente irreverente”, é com gosto que ainda me incluo nesta categoria apesar de esperar já estar numa fase um bocadito mais avançada do processo e reconheço perfeitamente inúmeras vezes em que também eu (no passado) deturpei um bocado a doutrina. E quem é que não o fez? Aos quinze anos “passarem-nos a perna”, é uma coisa mais do que grave, é um dos fenómenos sociais mais arrasadores que podem existir, uma verdadeira tragédia. Aquando de um acontecimento tão catastroficamente catastrófico há que fazer alguma coisa para não perder a face, e aí sim, o facto de a vingança ainda estar no frigorífico dá muito jeito. O “então e tu não fazes nada?” fica logo arrumado com um “espera aí que a vingança serve-se fria”, e entretanto passa do frigorífico ao congelador, onde na maioria dos casos acaba por ficar eternamente.
Perdoar genuinamente a pessoa: nunca (!), mas já que a vingança não é uma coisa tão fácil como parece, ao menos deixa-se que o incidente morra aos olhos da sociedade, e pelo menos assim os outros já não pensam mais nisso! Não admira portanto que a maioria de nós já tenha uma arca frigorífica descomunal.

Ora bem, como cheguei à idade “séptica” das coisas presumo que também faça parte adoptei uma doutrina completamente diferente. Claro que isto pode igualmente ser visto como fruto de eu nunca ter sido grande jogadora nessas coisas de “vingança”, mas prefiro continuar a pensar que é da idade!
Enfim, estava eu a ouvir um plano maquiavélico de uma vingança (que se está mesmo a ver que nunca irá a lado nenhum), quando desenvolvi esta minha nova teoria: a vingança não é qualquer prato que se serve frio, é uma autêntica salada russa. Ora aprecie-se a receita: cortam-se as batatas e as cenouras aos cubinhos ( e não ficamos nós a moer todos os pormenores aos bocadinhos, até que devido às dimensões temos de parar senão teríamos quadradinhos em vez de cubinhos?), juntam-se as ervilhas (sim, que o feijão verde não é para mim – mas quem é que depois não põe ao barulho tudo o que aconteceu nos 20 anos anteriores, normalmente envolvendo antepassados quase todos já lá em cima?), por fim enfeita-se com um ovo cozido aos gomos (convém sempre depois dar assim um bom aspecto à coisa, que é para não fazermos muito má figura). Por último junta-se muita, muita mas mesmo muita maionese, e está prontinho para servir aos amigos mais íntimos (que irão certamente espalhar pelos seus amigos mais íntimos).
Depois de comido, missão cumprida.

Estou portanto confiante de que quando esta fase passar, eu voltarei a acreditar em vinganças e teorias da conspiração e todas essas coisas que acabam por ser o real motivo porque nos levantamos da cama! ..sim, não me venham agora com histórias de “filhos”, e “felicidade” e “amor da minha vida”, já todos sabemos que o que faz o mundo andar à volta são as “mesquinhices”, as “histórias de vingança”, e o “sangue derramado”.

Saturday, November 25, 2006

Clichés are so last season...


Ninguém gosta de clichés. Já não há definitivamente espaço para essas coisas tristes no mundo!

Ninguém gosta de ser defendido por outra pessoa, muito menos se essa pessoa for do sexo oposto. Ninguém gosta de receber rosas vermelhas só pelo facto de elas serem rosas e vermelhas. Ninguém gosta de ir ao cinema ver filmes do Hugh Grant, ou muito menos do Jude Law, porque não se vai ver nada a baixo de Star Wars. Ninguém gosta de ler poemas românticos, ou declarações profundas. Ninguém ainda acha piada a qualquer tipo de cavalheirismos: qual é a rapariga que deixaria que lhe puxassem a cadeira, pagassem o jantar ou até mesmo que lhe abrissem a porta? Ninguém acredita no amor “à filme” nem que o casamento com o vestido branco venha a ser alguma vez uma possibilidade plausível. Ninguém jamais se volta a lembrar do primeiro beijo, do primeiro amor, e muito menos do primeiro namorado. Ninguém dá importância a presentes de qualquer tipo: o natal é uma tradição demasiado religiosa e o dia dos namorados um apelo ao consumismo. Ninguém precisa de elogios, o ego é tão “last season”, e a auto-confiança um mero mito. Mimos? O quê?

Já ninguém precisa de amigos. Já ninguém dá importância a receber uma visita com muitos chocolates depois de um devastador. Já ninguém precisa de ver um amigo paciente, um saco de água quente, ou uma caixa de trifene 200, quando está com o PMS. Já ninguém se refugia no quarto do melhor amigo quando parece que o mundo está mesmo, mesmo, mesmo quase a acabar. Já ninguém dá importância ao aconchegar dos lençois ou ao beijinho de boa noite. Já ninguém precisa de uma mãozinha quando as saudades de casa apertam. Já ninguém precisa de um ombro amigo para quem ir chorar quando tudo corre mal. Já ninguém dá importância ao facto de haver quem ainda dê pela falta dele.

Já somos todos demasiado independentes...

Mas será que alguma vez alguém deu oficialmente importância aquilo que não tem?
...A todos os tristes que andam por aí...

Friday, November 24, 2006

A nós, pobres de espírito...

Como somos uns pobres de espírito...

É um problema quando chegamos à paragem do autocarro, e ele acabou de se ir embora (logo quando precisávamos de chegar rápido à Universidade). É um aborrecimento quando recebemos uma carta a dizer que afinal a nossa colaboração não é essencial para um emprego que estavamos mesmo a precisar (e ainda por cima se nos lembrarmos que tivemos de pagar pela notícia porque alguém não pôs selos suficientes). É frustrante quando todo o trabalho que foi feito para uma aula é irrelevante (só para não dizer completamente errado) porque nos esquecemos de um pequeno promenor que troca tudo. É absolutamente irritante quando vamos a telefonar para o centro de saúde e reparamos que acabamos de ficar sem saldo no telemóvel. Mas o que torna o dia realmente catastróficamente catastrófico é quando se insiste que se está mesmo a precisar de ver um médico, mas em vez disso ficamo-nos pela enfermeira (porque neste país parece-me que nunca ninguém adoece fortemente) e a virose afinal já é só um congestionamento, portanto nada de antibiótico mas as mesmas muitas dores de ouvidos, a juntar ao facto de se ter uma dissertação gigante para se escrever e além da disposição ser pouca o conhecimento da matéria não parece suficiente, isto só para não se falar de quando se está a um passo de adquirir um objecto essêncial que acabou de subir de preço.

É claro que pensar que chegar a casa e apercebermo-nos que vivemos com as melhores pessoas da cantarbúria (apesar de ainda haver uma alma perdida que também vale muito a pena), e que além de termos uma casa anarquicamente espectacular, é bom discutirmos um dia enquanto comemos pizza acabada de sair do forno e nos congratulamos por finalmente termos conseguido que o Bob tenha ido num “date” com a Sarah (o nosso amigo imaginário, e a amiga imaginária dos 4 anos). O facto de depois sermos capazes de escrever o essay todo, bibliografia incluída, com uma semana de antecedência foi um acidente de percurso. É mais que óbvio que o facto de a única pessoa que jamais lerá alguma coisa na vida se ter dado ao trabalho de ler o meu blog, e pensar que um dos posts só se tornou público porque era mesmo impossível ser lido pelo destinatário(!), não é nada comparado com os desastres do mundo. É evidente que faltarem três semaninhas para voltar a casa e matar, e se não vão ser bem matadas, saudades do meu mundo não se compara com as três semanas de trabalho que se avizinham. O Canterbury Tate-living- room ter sido inaugurado com a sua primeira obra prima “Clockwork Orange” (do qual prometo “postar” uma fotografia logo que a pintora autorize), revelando um grande passo na vida de uma pintora que eu pensei que jamais se viria a revelar, é uma banalidade sem relevância nenhuma. Nem vale a pena falar daquela amiga, mesmo amiga, de quando tinhamos 8 aninhos que nunca mais voltamos a ver, e que provavelmente já seguiu caminhos completamente diferentes e que apesar de ficar sempre comnosco não há esperança de voltarmos a re-encontrar, vir fazer uma visita e dar noticias há muito esperadas. Realmente, ter encontrado as chaves deve mesmo ter sido a única coisa memorável...
Enfim, pelo menos eu...definitivamente pobre de espírito!
....mas agora que identificado, isto vai mudar!...

Friday, November 17, 2006

Partiu-se

Fui hoje confrontada com um grande problema. É sempre mau quando nos apercebemos de um trauma de infância que carregamos desde que somos pequeninos, mas pior ainda é sabermos que nunca seremos compreendidos. Esta é a minha derradeira tentativa de conseguir alguma compreensão por parte de todos os meus familiares e amigos.


Tudo isto aconteceu por causa da língua inglesa. Passo a explicar: estava hoje sentada ao lado do meu “law friend”, quando ele me pergunta se estava tudo bem e porque é que eu tinha chegado tão atrasada, e eu, passado longos minutos de uma luta brutal dentro do meu cérebro, tenho que lhe dizer “My house keys are missing in action”. Ora bem, imagino que qualquer mortal ache isto uma frase perfeitamente normal (especialmente se o mortal associar a frase à minha pessoa), e sendo assim é quase incompreensível porque é que eu tive que me debater com uma luta mental dentro do meu cérebro; eis o problema: a primeira frase que me veio
à cabeca foi “my keys lost themselves”, mas depois lembrei-me que seria mais algo como “my keys lost itlselves”, e momentos depois devido ao falta de nexo das frases anteriores pensei na possibilidade “my keys are lost”, que acabou entretanto por culminar no “my keys are missing in action” dado que era a única frase que, apesar de pouco, faria algum sentido. A frustração a este ponto era tanta, que passei o resto da aula a pensar nas origens desta minha falta de vontade de admitir que tinha acabado de fazer asneira (ou neste caso de causar a minha própria falência se se verificar que tenho de ir fazer outras chaves), queria descobrir o facto que me tinha levado a não ser capaz de dizer simplesmente “I lost my keys”.

Eis a conclusão:
Partiu-se.
Exactamente, a minha primeira falha em termos de admissão de culpa começou, nem mais nem menos do que com partiu-se.
Andava eu na pré primária, quado a minha professora me chamou para ir pintar (e eu não percebo porque é que ninguém percebe que quando alguém aos cinco anos se recusa a fazer alguma coisa como pintar é mesmo porque não tem qualquer vocação e não deve ser forçado...enfim), e eu, como na altura ainda não possuia poder de argumentaçao algum, lá fui. Foi portanto o sol amarelo que arruinou o meu dia: quando peguei no frasco de tinta, ele partiu-se no momento em que atingiu o solo. “Vai chamar a Tia Graciosa e pede-lhe uma esfregona para limpar isso”. Ora bem, como a “Tia Graciosa” (que, acreditem, na altura para mim era tudo menos Graciosa) estava no outro lado da escola, lá fui eu o caminho todo a pensar como é que ia fazer semelhante coisa. Pelo que me lembro, quando lá cheguei a única coisa que me saiu da boca foi “o frasco de tinta amarela partiu-se!”, e depois claro que lá expliquei o facto de precisar de uma esfergona para ir limpar o bonito serviço. Tendo ido o caminho de regresso todo a ouvir como era uma coisa inoportuna, e desajeitada fazer-se algo como partir um frasco de tinta amarela (não sei o porquê da insistência no ser amarela, teria a côr feito diferença? Secalhar havia pouca tinta em “stock” e como tal a lei da oferta e da procura ditaria que seria mais caro...enfim, nada que a minha cabecinha com cinco anos pudesse ter chegado à conclusão). O traumatizante desta história foi que até a porta da sala, tendo ouvido semelhante menosprezo pela pessoa que tinha sofrido a tragédia, não fui capaz de confessar que tinha sido eu a fazer o disparate. Quando achei que, minutos depois, por já estar misturada com os meus colegas, e completamente anónima, já me tinha safado do pequeno incidente ouço uma voz por trás de mim a dizer “Com que então partiu-se?!”. E aí sim, senti-me muito muito muito, enfim, muito pequenina.


A partir daí foram umas atrás das outras, o video “estragou-se” porque engoliu uma cassete ao contrário (algarve, uns meses depois, em casa de uns amigos dos meus pais), a televisão “partiu-se” (não sei bem quando em cascais, mas pegou porque eu podia ter sofrido um acidente grave pelos vistos), o passe do autocarro “perdeu-se” (macau, mês de fevereiro quando eu tinha 10 anos – e perdeu-se mesmo porque no mês seguinte a carteira com o passe caiu-me em cima da cabeça aquando das arrumaçoes semestrais), e, quase todas as semanas os fones estragam-se misteriosamente. Enfim...acho que admitir tanto disparate é demais para mim...é um peso que tenho de carregar comigo desde aquele dia.

Também tenho um trauma de infância caramba!, não posso ser compreendida?

Hoje foi um dia de más recordações, ainda sem chaves.

Wednesday, November 15, 2006

É realmente fodido...e?

Há coisas fodidas, e, como já dizia (e continua a dizer) o Miguel Esteves Cardoso o Amor é uma delas. Já foi motivo de desgosto para todos, explorado por muitos, e decentemente descrito por alguns. Nada contra, a favor até, mas a verdade é que quando o desgosto bate, bate sempre de maneira diferente.

Há a fase da degraça, ou melhor, a fase de nos sentirmos desgraçados como se toda a nosa vida fosse acabar naquele preciso momento, como se já nada fizesse sentido sem a outra pessoa. O orgulho também consegue ser uma coisa fodida! Depois, há a fase da revolta, em que tudo tem que ser mudado, ou feito de outra maneira, ou pensado de forma diferente – nada pode ser como ou estar como estava porque senão a desgraça vai voltar. Segue-se a fase da reconsiliação com os factos, e, possivelmente o estado em que finalmente é possivel dar-se o próximo passo. Depois?! Não me perguntem a mim…

No meio desta confusão há sempre aqueles que ajudam, aqueles que se aproveitam, aqueles que sorriem vitoriosamente, e, os que metem mais nojo, aqueles que “já sabiam que tudo ia acabar assim”. Mas no meio disto tudo, se é que é possivel, sobressaem os amigos – aqueles com quem tinhamos acabado de ser estúpidos com, ou com quem já não falavamos há meses, ou mesmo aqueles que deixamos para trás por causa da nova relação – e ao fim de contas, no fundo, sabemos que vamos ficar bem porque há sempre aquela parte de nós que estará lá para nos ajudar. E estes amigos não são nossos amigos porque namoravamos com aquele fulano, ou porque conheciamos o outro, nem tem nada a ver com isto ou com aquilo, são nossos amigos por e simplesmente porque somos merecedores de semelhante amizade!

Não é altura para te explicar como vais ficar melhor quando tudo isto passar, nem como estavas mesmo a precisar de crescer um bocado para além da relação que tinhas, nem mesmo como eras tão mais antes de te teres deixado ir por tão pouco. Às vezes é preciso haver maus bocados, para crescermos com eles e para aprendermos a valorizar os bons, é preciso percebermos que uma vida não se resume a uma relação, é preciso percebermos quem sou “eu”, antes de sabermos quem somos “nós”. Não te vou dizer que não me revolta que te tenha acontecido isto, logo agora, mas também não te posso dizer que vai voltar tudo à mesma coisa, e que vai ficar tudo bem já amanha, e que há por onde fugir aos problemas. Bem vindo ao teu primeiro problema que não tem escapatória possível.

Portanto, depois de muitos Haagen-Dazs (ou mesmo Ben and Jerry, porque é igualmente bom!), do cd inteiro da Renee Olstead (repetido ao nível da exaustão), de umas conversas profundas, algumas lágrimas e muito, muito cepticismo depois, vai definitivamente aparecer a luzinha ao fundo do túnel!

"O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido. [...]" O Amor é Fodido, Miguel Esteves Cardoso

Thursday, November 09, 2006

Pessoas (que eu espero que não sejam) Como Nós

Eis 5 motivos porque estamos cada vez mais a evoluir em termos literários:

  1. O Ser Amargo conseguiu finalmente chegar às massas com o seu, “Intermitências da Morte”, que decidiu pegar e por isso temos toda a população em euforia com o nosso grande Nobel. Isto só para não falar no facto de que agora o best-seller da Europa-América não vai ser o livro de resumos da Aparição mas sim o do Memorial do Convento (que começara muito em breve a ser elogiado por todos os professores de português que se prezem por todo o pais) .
  2. A Daisy Rebelo Pinto vende como gente grande! Isto é motivo de grande ânimo para todos aqueles que (e contra mim falo) se aventuram em cursos de direito ou jornalismo (fugir às matemáticas dá nisto...), e esperam um dia vir a conseguir sustentar-se. Por isso já sabem, capas fuschia, umas quantas frases “originais”, e depois é só ir copiando paragrafos e trocar o lugar das virgulas – se algum dia acharem que são uma fraude lembrem-se que, e como a nossa querida sublinhou numa revista cor-de-rosa da moda, o Eça também se baseou na Tragédia da Rua das Flores para escrever os Maias (o facto de ele nunca ter publicado a primeira obra é um mero acaso)!
  3. A RTP, SIC e TVI, com imensa pena dos jovens que teriam que desperdiçar algum do seu tempo se queriam descobrir o que eram livros de aventuras infanto-juvenis, decidiram começar a lançar séries televisivas dos mesmos! Hoje em dia os mais pequenos já não precisam de perder tempo a ler o Triângulo Jota, a colecção Uma Aventura, ou mesmo o Clube das Chaves – em breve estaram disponíveis à borla no you tube!
  4. O Código foi lido por milhares de tugas! Como o que estava a faltar em Portugal era gente pretenciosa e sem cultura nenhuma, o senhor Brown encarregou-se de levantar os ânimos de todos aqueles que achavam que precisavam de saber alguma coisa de história (aquela coisa chata e desinteressante, que provavelmente teve direito a um misero nove e meio no fim do nono ano) ao publicar um livro estupidamente pretensioso mas cheio de cultura – esforcem-se por ler 700 páginas e cheguem ao fim não só a saber da existência da pirâmide invertida, assim como tudo sobre a Opus Dei, o Cálice, a religião Católica e todos os males dos nossos tempos.
  5. Com o Sin City, Superman, Batman, Tintim, V for Vendetta, e muitos, muitos mais em todas as salas de cinemas (ou blockbusters) perto de sí o mundo da banda desenhada já está todo sobe controle. Sendo assim, não vale a pena sequer estar a olhar para os estúpidos quadrados que alguém se foi dar ao trabalho de ilustar, muito menos para o que lá está escrito (para que é que existem legendas nos filmes ah?)! Quando muito valeria a pena dar uma olhadela ao Calvin and Hobbes que continua apenas em papel, mas esse vem no público todos os dias por isso dá para ir dando uma espreitadela ao jornal da pessoa que vai sentada ao nosso lado no autocarro.

Monday, November 06, 2006

Gosto mais de ti do que de Cadbury's Crunchie !!

Morrer deve custar, mas acho que nada supera o pensar na morte.

Penso nisso especialmente quando vejo pessoas de quem gosto a irem-se lentamente embora. É como se de repente em vez de um abraço estivesse à minha espera um aceno, como quem diz “agente vê-se!”, e em vez de uma recepção calorosa um simples sorriso de alguém que “ja andou tanto que já não tem mais para andar”. É só nestas alturas, quando o caminho já está percorrido, e o destino cuidadosamente traçado, que nos lembramos de olhar para trás e pensar “Ei! Ainda não”. Mas mais triste ainda que isto, é o facto de nem nesta altura sermos capazes de dizer aquilo que pensamos.

Só depois de tantos anos em que nos habituamos a deixar que as pessoas fizessem parte da nossa vida sem que nos dessemos realmente a conhecer, nem querendo realmente saber o que a outra pessoa tinha a dar, quando sentimos que secalhar já nem vai haver tempo para isso é que vem um arrependimento, uma espécie de mágoa transformada em remorso que o tempo só pode piorar...

Agora, quando sinto que já não há nada a fazer, quando acho que já nada daquilo que eu possa dizer vai chegar ao outro lado, é só agora que sinto uma necessidade extrema de gritar: “Não vás já, ainda tens caminho para percorrer – ainda não me conheceste, ainda não te deste a conhecer, ainda falto eu!”. Mas e a força de vontade? Mas e o tempo? Mas e a coragem?... Há sempre aquele “cafézinho”, aquela ida à discoteca, aquela despedida do amigo que não se pode ir embora sem nos ver, aquela aula de condução, aquele exame que precisa de preparação, aquela falta de tempo...

E agora, quando acho que já de nada serve pedir-lhe que se agarre a vida, só queria conseguir chegar ao pé dele, abraça-lo (sim, porque até para um abraço sentido é preciso coragem), e dizer-lhe: “Gosto tão mais de ti do que de cadbury’s crunchie!”

Best be there !


Quero o meu amigo.


Sim, quero o meu amigo outra vez!

Ele não morreu, nem sofreu um acidente grave, nem está particularmente xateado comigo, nem se converteu a uma religião que não o permite comunicar com infieis, nem sequer tão pouco mudou de sitio no planeta terra. Ele simplesmente deixou surrateiramente o seu posto e eu, ingénua, só há pouco tempo dei por isso.

A culpa é dele que deixou de falar comigo? A culpa é minha que me esqueci de falar com ele e o manter informado do mundo? A culpa é da vida, que corre tão rápido que não temos tempo de apanhar os amigos e dizer-lhes o quão importante eles são? A culpa...? Mas há culpa?

Mas eu tive um amigo. Garanto-vos que tive um amigo. E esse amigo era o amigo mais amigo que alguém pode ter (e não me venham dizer que ele não era amigo por agora já não ser amigo, porque, seus sabichões, há muita coisa numa amizade que vocês podem nunca chegar a perceber...e o porquê de ele ter deixado de ser o meu amigo é uma delas).

Por isso é que quando falo com o que resta do meu amigo me apercebo que há tanta coisa nova na vida dele que eu não conheco, por isso é quando estou com o que resta do meu amigo me apercebo da súbita necessidade de meter conversa porque o silêncio já não é confortável, por isso é que quando começo a escrever um e-mail ao que resta do meu amigo de repente há tantas coisas que “secalhar não devia escrever”, por isso é que quando penso telefonar ao que resta do meu amigo há uma hesitação e um desconforto desconhecido, por isso tudo é que quando penso no meu amigo consigo perfeitamente distingui-lo do que resta do meu amigo.

Sendo assim, quero oficialmente pedir desculpa ao meu amigo, servindo-me de intermediario daquele que é o que resta do meu amigo, quero pedir-lhe desculpa se eu me esqueci que ele estava lá por mim, quero pedir-lhe desculpa se fiquei tão embrenhada na minha vida, e nos meus problemas, e na rapidez com que o tempo passa, e em filosofias sem sentido, e em pensamentos absurdos, que me esqueci que podia ter partilhado isso tudo também com ele, quero pedir-lhe desculpa por tudo aquilo que eu não deixei que pudesse ter sido alguma coisa. Desculpa amigo se eu me esqueci que eras meu amigo...

Ainda assim, quero o meu amigo!

...isto é só para ti amigo...

Quero Almoços Grátis !!

Querido Pai Natal:

Sei que é um bocadinho cedo para já te estar a escrever, mas, como é bom que saibas bem aquilo que eu quero antes do natal, achei que um mês e 2 dias antes da grande data era o ideal para teres tempo de arranjar-me A prenda!

Este natal tenho um pedido bastante peculiar a fazer-te, mas devido ao facto de te ter em grande conta, acho que ja estava na altura de te dar um real desafio! Não me leves a mal quando digo “real desafio”, não penses que quando te pedi umas sapatilhas “All Star”, com tantas marcas diferentes no mercado que tu trouxeste umas “Top Star”, ou antes disso quando em vez do meu “Baby Born” so tive direito a um “Baby Pipi”, ou mesmo quando foi preciso um guardanapo azul (que acabou, tristemente, enrolado a um pacote de manteiga) para provar a tua existência, não achei que esses nao fossem desafios (!), mas desta vez acho que até tu amigo vais ficar surpreendido!

Ora bem, quero finalmente ter almoços grátis! Estou farta desta realidade, estou farta de saber que todas as acções têm consequencias, e que crescer traz responsabilidades agarradas, e que quando uma pessoa acaba de sair de uma situação catastroficamente catastrofica e pensa que finalmente se vai poder dar ao luxo do merecido “Uff” tem de vir ao barulho alguma coisa que nos faz realmente pensar que “there is no such thing as a free lunch”! Simplesmente não acho isto justo, e como tal Pai Natal, achei que tu eras a pessoa indicada para me ajudar! Caso estejas confuso, eu especifico: queria estar em casa e nao ter de estar constantemente a ser lembrada de como é bom serem só férias, queria beneficiar dos pontos positivos da metamorfose que culminou no mais recente “tuguinha” sem ter de aturar uma necessidade brutal de afirmação, queria poder ficar independente sem responsabilidades atreladas e ter quem me lavasse a roupa e arrumasse a sala e fizesse a comida, queria estar a estudar no estrangeiro e poder chegar a “casa” e sentir-me em casa, queria crescer e poder sempre voltar ao utero e fechar os olhos e fazer de conta que esta tudo bem, queria comprar Aquele casaco e não ter de chegar subnutrida ao fim do mês, queria escrever um bom essay e não ter de estar uma semana a dedicar-me a pesquisa, enfim...essas pequenas coisas que ao fim do dia fazem toda a diferenca!

Obrigada amigo! Qualquer coisa “apita”!

Aquele Abraco