Monday, February 26, 2007

Maldita Sociedade Capitalista!

A sociedade capitalista desiludiu-me mais uma vez... Pois é! Eu, trabalhadora nata, que não fiz outra coisa hoje senão queimas as pestanas (ou quase) e comer leite com cereais (que já não há nada no frigorífico), merecia pelo menos ter o prazer de ver os Óscares! Mas não...só passam na Sky Movies vejam lá!

É com esta especial raiva à sociedade capitalista, que só passa este programa de uma intelectualidade profunda nos canais pagos da tv-cabo (sky), que me vou deitar depois de ter escrito 2500 palavras para um essay com um limite de 2000!

Sobra-me portanto a antena 3...posso não ficar a saber nada do que se passa na academia, posso não ouvir nada do que se está efectivamente a passar, mas ficarei certamente ilucidada com as opiniões muito opinativas dos comentadores! Enfim...

(mas agora nem isso...problemas técnicos estragaram de vez a emissão! Enfim...hoje não é mesmo o meu dia...)

Monday, February 19, 2007

Então, os almoços?



Será que tenho verdadeiramente saudades de casa?




É claro que tenho saudades de me sentir pequenina, e de me sentir segura, e de experiênciar aquele “uff, cheguei a casa”, e de me sentar no sofa e finalmente fechar os olhos, e de ouvir alguém chamar-me para jantar e não haver surpresas desagradáveis porque a comida é feita pela mãe, e de um quarto a que posso egoísticamente chamar “o meu quarto”, e de discutir com o meu irmão, e de ter um irmão, e de adormecer com um beijinho de boa noite.

Mas a questão mantêm-se, será que tenho verdadeiramente saudades de casa?

Porque tenho saudades das facilidades, e tenho saudades dos mimos, e tenho saudades dos elogios e do apoio, e tenho saudades da cumplicidade, e tenho saudades dos lençois passados a ferro, e tenho saudades da companhia, e tenho saudades daquele abraço.

Mas será que isso é que é ter verdadeiramente saudades de casa?

Ter saudades da preguiça matinal, ter saudades de ter de sair do banho rápido porque vem um irmão a seguir, tenho saudades de ouvir porque sou desarrumada, ter saudades de chegar a casa depois de umas férias bem passadas, ter saudades de me sentir em casa.

São portanto verdadeiras saudades de casa?

Não sei.

E ja achei que sabia que não. E já achei que sabia que sim. Hoje simplesmente não sei.

E tanto como trocava tudo aquilo que consegui até agora por voltar para as facilidades e o conforto de se estar em casa, como não conseguia deixar esta minha nova casa. Porque não tenho pais, nem irmão, nem família, mas tenho amigos, e abraços, e confusão, e saudades quando eles se vão embora (mesmo que seja só por uma noite), e muitas coisas boas para partilhar quando eles voltam, e um conforto especial quando entro pela porta e me sento no sofá e sei que não estou sozinha. Também gosto da minha nova casa.

Tenho saudades de não ter saudades de alguma coisa. Tenho saudades do tempo em que não se tinha de deixar uma coisa para conseguir outra. Vou sempre ter saudades, e dizem que truque está apenas em conseguir viver, e bem, com elas. Mas eu, eu não acredito nisso, eu sei que o que o truque são almoços grátis!

Sunday, February 18, 2007

Para acabar com todas as críticas!


Todos os visitantes do nosso bunker, de uma maneira ou outra, se vêm a cansar da maneira como organizamos as coisas por cá, e eu, como maneira de combater complexos de inferioridade ou uma ida ao psicólogo passo a explicar o que se passa aqui pelo bunker da canterburia!

Como a independência é um momento de grande complexidade, a cambada aqui de casa (constituída por três adolescentes irreverentes) decidiu que tinha de a viver com convicção! Como cambada de intelectuais que somos aqui em casa, e historiadores acima de tudo, decidimos que era preciso contribuirmos alguma coisa para o bem da humanidade. Sim, porque há que ver que se não for aos 20 anos que se pensa que é possível mudar o mundo, quando há-de ser? Portanto, transforma-mos o nosso bunker num autêntico laboratório. Apesar de ser uma experiência em principio altamente confidencial, sinto-me forçada a abrir mão de algumas informações.

A nossa primeira decisão foi a criação de um microclima. Não é de forma alguma porque ao fim de seis meses ainda não sabemos controlar o aquecimento, como pode ser suposto por alguns ignorantes, que vivemos neste calor intenso durante várias horas do dia! É importante estudar-se o aquecimento global, e que forma mais eficaz do que testarmos isso em laboratório? Os resultados até agora não têm sido nada maus...algumas doenças devido à súbita mudança de temperatura quando se saí do microclima, mas nada que não se resolva quando o aquecimento se tornar global!

Outra decisão importante foi a de finalmente ficarmos a perceber o motivo do grande fracasso da polícia secreta alemã. Sendo uma das polícias com o melhor sistema de recolha de informação do mundo, é curioso, no mínimo, como é que tal sistema pôde falhar. Como papel era demasiado caro, decidimos fazer a mesma experiência com roupa. Ora bem, a fotografia é uma boa ilustração do que aconteceu à policia alemã, com o excesso de informação recebido de uma forma súbita, ao fim de algum tempo, eles já não sabiam para onde é que se deveriam virar e resultou no caus! O estudo deixou os residentes muito mais informados quanto à questão.

Há, claro, mais experiências a decorrer a toda a hora, mas seria demais da minha parte partilhar ainda mais informação! Posso é desde já garantir que o estado vazio do frigorífico não tem nada a ver com o estado económico dos estudantes (e do estúpido valor a que está a libra), é só um estudo enriquecedor sobre a fome do mundo - porque só a percebe realmente quem passa por ela! Ah, e a falta de luz no corredor é obviamente uma homenagem ao Benjamim! Sem poder deixar de referir que a montanha de pratos sujos na cozinha tem óbviamente a ver com a nossa próxima experiência de comprovação da eficácia de uma gotinha de Fairy...

E, enfim, ainda há quem tenha a real lata de chamar a isto desarrumação...!

É só importante relembrar que todas as experiências são efectuadas sob a vigilância de pessoal especializado, pronto a intervir em caso de catástrofe. Não é nada, mas é de acreditar que é mesmo nada, aconselhável experimentar isto em casa...

Saturday, February 10, 2007

se há escolhas, que seja eu a escolher!

Odeio escolhas. E não me importo que digam que as escolhas são a parte mais importante das nossas vidas, ou que temos sempre que escolher alguma coisa, ou até mesmo que a nossa sem vida sem escolhas não faz sentido. Odeio escolhas, pronto! É assim tão mau?

Não gosto de ir ao restaurante e escolher aquilo que vou comer, não gosto de conflitos amorosos em que chega a uma altura em que tem que haver uma decisão, não gosto de escolher aquilo que vou querer fazer até ao fim dos meus dias, não gosto de decidir aquilo que vou fazer para jantar, não gosto de decidir se vou ou não finalmente passar a roupa a ferro, não gosto de ter de escolher que partido é que eventualmente vou ter de tomar numa discussão entre amigos, não gosto de enfrentar a escolha entre fazer aquilo que estão à espera que eu faça, e fazer aquilo que quero! Enfim, não gosto de escolhas!

O mais irónico da questão é contudo que, à parte do restaurante, e pronto, o que fazer para jantar, e mesmo aí há muitas excepções, não gosto que escolham por mim!

É desgastante, e frustrante, termos de decidir aquilo que vamos fazer. Decidir que não queremos voltar para “casa” e que vamos subitamente mudar de continente, de vida, de tudo, porque simplesmente é preciso! Decidir que afinal escolhemos o curso errado, e chegou a altura de voltar atrás e fazer uma nova tentativa! Decidir que fomos efectivamente incorrectos com um amigo, e temos de lhe pedir desculpa! Decidir que não passar os pijamas porque eles vão ficar necessariamente encorrilhados é demasiado “last season”, e que temos finalmente que pegar no ferro!

Mas pior que decidirmos isto, é enfrentarmos as nossas decisões, por mais pequeninas que elas sejam! Sim, porque até decidir que queremos começar a passar os pijamas dá trabalho, pegar no ferro, perder tempo com isso, e perceber que passar a ferro até tem alguma ciência! Enfrentar os pais quando lhes “pedimos” para não voltar para casa, e deixar tudo para trás, porque é preciso ficarmos a saber se somos capazes ou não, e arriscar tudo, e até mesmo em alguns casos “ter mais olhos que barriga”, e não se saber mesmo como é que se vai chegar ao fim daquele ano sem pais, sem os amigos que conhecíamos, sem a “casa” é complicado. Ter a coragem de voltar ao primeiro ano, embarcar num curso que ninguém percebe bem, e é tudo muito confuso, e indefinido, e ter pela primeira vez de sentir o peso da responsabilidade associado a todas as escolhas importantes. Sermos capazes de sair da nossa pequena “bolha” e compreendermos que às vezes também estamos errados, e às vezes mesmo naquelas pequenas coisas que se calhar aparentemente não têm importância nenhuma, um amigo tem de saber estar lá e pedir desculpa.

E quando vamos a meio das decisões e parece que nada corre bem? Quando o pijama afinal estava demasiado seco, e as encorrilhas não saem, e ninguém passa nada a ferro e por isso não há aparentemente solução para o problema?! Quando julgamos que o pior seria enfrentar os pais, e conseguir a confiança deles para sair de casa, mas afinal o problema está mesmo em subir aquela montanha que parece nunca mais acabar, e já não conseguimos pensar em mais nada senão desistir, porque chegar ao fim parece definitivamente impossível?! Quando afinal ter de compreender casos em inglês arcaico se prova mais difícil do que aquilo de que era esperado, e é preciso mais trabalho, e mais dedicação, e ainda mais estudo, e tudo aquilo que se calhar neste momento nem estaríamos dispostos a dar, porque às vezes já não temos mesmo mais por onde dar, mas o peso da responsabilidade está sempre lá para nos pôr um peso na consciência?! E quando vamos a meio do discurso e descobrimos que, e agora que verbalizamos, o assunto era bem mais sério e o pedido de desculpas bem mais difícil?!

Mas no fundo, e apesar de nem tudo correr bem pelo caminho, há muitas coisas que vão ajudando, e alguma coisa de boa irá eventualmente resultar. Mesmo que não seja há primeira que o pijama fica passado a ferro, as probabilidades de tudo resultar numa próxima são efectivamente maiores. Mesmo que não haja pais, nem os amigos que conhecíamos ali ao lado, há novos amigos, e velhos amigos que vão ficar sempre lá, e familiares que nos surpreendem, e trabalho, sim, muito trabalho, mas também quem motive e nos mantenha confiantes nos objectivos. Mesmo que o inglês arcaico não seja simpático, há sempre a convicção de que a escolha foi nossa, e que alguma coisa de boa há-de eventualmente sair dali! E quanto aos amigos, por mais difícil que seja, mais tarde ou mais cedo são sempre eles que estão lá para nos dar a mão.

E ao fim do dia, quando o desafio foi cumprido, e a decisão já teve a importância que tinha de ter, é bom olhar para trás e ver que nem tudo foi mau. É bom sentir que fomos donos de nós próprios, e que tomamos as nossas decisões, e que nos mantivemos por elas e defendemos as nossas convicções, e acima de tudo fomos nós. E mesmo que algumas delas tenham sido mal tomadas, e outras pudessem ter sido melhores, há sempre aquelas que nos deixam orgulhosos e reconfortados. E continuo sem gostar de tomar decisões, mas já que é facto que elas existem, vou querer ser eu a toma-las! E tenho a certeza que, um dia, só o simples facto de puder olhar para trás e respirar fundo no fim de uma nova tarefa, vai valer a pena!

Até lá, visto as minhas calças de pijama encorrilhadas, e regresso à minha dissertação de “direito contratual”, sem nunca negar que mal posso esperar pelo dia em que vou olhar para trás e pensar: consegui!

Thursday, February 08, 2007

Ao teu segredo

Eu tenho um segredo.

Tenho um segredo que não é meu, nem devia estar comigo, mas deram-mo para guardar e eu agora não sei o que faça com ele.

Não gosto de segredos. Não gosto de ter segredos. Não devias confiar em mim um segredo, simplesmente porque eu não o quero. Fica com ele! Podes-mo dar, talvez um dia, quando ele já não for segredo.

Se é um segredo, é porque tu não queres que se saiba, e se tu não queres que se saiba, é porque é alguma coisa que não se deve saber, e se não se deve saber o que te faz crer que eu o quero? Mas pior que ele ser segredo, é saber do segredo. Se eu não soubesse dele, e tu nunca mo tivesses dado para eu guardar, hoje era um eu muito mais feliz, e sem segredo.

Acho que vou começar a delinear a minha vida antes do segredo e depois do segredo. Não que antes do segredo a minha vida fosse extraordinariamente diferente de depois do segredo. Não que antes do segredo eu soubesse alguma coisa que não saiba depois do segredo. Não que antes do segredo eu quisesse alguma coisa que não quero depois do segredo. Mas ao menos antes do segredo, eu não tinha que olhar para ti todos os dias e pensar, “eu sei o teu segredo”.

Porque há segredos que não se contam sabias? Há segredos que são segredo porque se todo o mundo soubesse deles, ia entrar em desatino, e ninguém quer um mundo desatinado! Há segredos que se não fossem segredo, iam deixar alguém triste, e alguém feliz, e alguém indiferente, e alguém constrangido, e alguém revelado. E será justo revelarmos alguém que não quer ser revelado?

Eu não queria saber do teu segredo. Não queria mesmo. E agora que sei do segredo que não queria saber, sei que todos os dias me vou deitar a pensar que o segredo está lá, e sei que todos os dias o segredo me vai lembrar que ainda está lá, e sei que quando o segredo adormecer é só para depois acordar e me relembrar que ainda lá está.

Eu não queria saber do segredo que tu me quiseste contar. Mas se me quiseste contar o segredo, mesmo que se calhar não fosse teu o segredo para mo contares, eu vou respeitar isso, e vou dizer ao segredo que eu preciso de ser eu para além do segredo, e sei que um dia ele vai perceber isso.

Desculpa. Desculpa não querer o segredo que tu tão desesperadamente me quiseste contar. Desculpa não conseguir compreender o segredo, deve haver segredos que são mesmo assim, incompreensíveis. Desculpa não conseguir desculpar ao segredo o facto de ele existir.

Talvez um dia...