Saturday, February 10, 2007

se há escolhas, que seja eu a escolher!

Odeio escolhas. E não me importo que digam que as escolhas são a parte mais importante das nossas vidas, ou que temos sempre que escolher alguma coisa, ou até mesmo que a nossa sem vida sem escolhas não faz sentido. Odeio escolhas, pronto! É assim tão mau?

Não gosto de ir ao restaurante e escolher aquilo que vou comer, não gosto de conflitos amorosos em que chega a uma altura em que tem que haver uma decisão, não gosto de escolher aquilo que vou querer fazer até ao fim dos meus dias, não gosto de decidir aquilo que vou fazer para jantar, não gosto de decidir se vou ou não finalmente passar a roupa a ferro, não gosto de ter de escolher que partido é que eventualmente vou ter de tomar numa discussão entre amigos, não gosto de enfrentar a escolha entre fazer aquilo que estão à espera que eu faça, e fazer aquilo que quero! Enfim, não gosto de escolhas!

O mais irónico da questão é contudo que, à parte do restaurante, e pronto, o que fazer para jantar, e mesmo aí há muitas excepções, não gosto que escolham por mim!

É desgastante, e frustrante, termos de decidir aquilo que vamos fazer. Decidir que não queremos voltar para “casa” e que vamos subitamente mudar de continente, de vida, de tudo, porque simplesmente é preciso! Decidir que afinal escolhemos o curso errado, e chegou a altura de voltar atrás e fazer uma nova tentativa! Decidir que fomos efectivamente incorrectos com um amigo, e temos de lhe pedir desculpa! Decidir que não passar os pijamas porque eles vão ficar necessariamente encorrilhados é demasiado “last season”, e que temos finalmente que pegar no ferro!

Mas pior que decidirmos isto, é enfrentarmos as nossas decisões, por mais pequeninas que elas sejam! Sim, porque até decidir que queremos começar a passar os pijamas dá trabalho, pegar no ferro, perder tempo com isso, e perceber que passar a ferro até tem alguma ciência! Enfrentar os pais quando lhes “pedimos” para não voltar para casa, e deixar tudo para trás, porque é preciso ficarmos a saber se somos capazes ou não, e arriscar tudo, e até mesmo em alguns casos “ter mais olhos que barriga”, e não se saber mesmo como é que se vai chegar ao fim daquele ano sem pais, sem os amigos que conhecíamos, sem a “casa” é complicado. Ter a coragem de voltar ao primeiro ano, embarcar num curso que ninguém percebe bem, e é tudo muito confuso, e indefinido, e ter pela primeira vez de sentir o peso da responsabilidade associado a todas as escolhas importantes. Sermos capazes de sair da nossa pequena “bolha” e compreendermos que às vezes também estamos errados, e às vezes mesmo naquelas pequenas coisas que se calhar aparentemente não têm importância nenhuma, um amigo tem de saber estar lá e pedir desculpa.

E quando vamos a meio das decisões e parece que nada corre bem? Quando o pijama afinal estava demasiado seco, e as encorrilhas não saem, e ninguém passa nada a ferro e por isso não há aparentemente solução para o problema?! Quando julgamos que o pior seria enfrentar os pais, e conseguir a confiança deles para sair de casa, mas afinal o problema está mesmo em subir aquela montanha que parece nunca mais acabar, e já não conseguimos pensar em mais nada senão desistir, porque chegar ao fim parece definitivamente impossível?! Quando afinal ter de compreender casos em inglês arcaico se prova mais difícil do que aquilo de que era esperado, e é preciso mais trabalho, e mais dedicação, e ainda mais estudo, e tudo aquilo que se calhar neste momento nem estaríamos dispostos a dar, porque às vezes já não temos mesmo mais por onde dar, mas o peso da responsabilidade está sempre lá para nos pôr um peso na consciência?! E quando vamos a meio do discurso e descobrimos que, e agora que verbalizamos, o assunto era bem mais sério e o pedido de desculpas bem mais difícil?!

Mas no fundo, e apesar de nem tudo correr bem pelo caminho, há muitas coisas que vão ajudando, e alguma coisa de boa irá eventualmente resultar. Mesmo que não seja há primeira que o pijama fica passado a ferro, as probabilidades de tudo resultar numa próxima são efectivamente maiores. Mesmo que não haja pais, nem os amigos que conhecíamos ali ao lado, há novos amigos, e velhos amigos que vão ficar sempre lá, e familiares que nos surpreendem, e trabalho, sim, muito trabalho, mas também quem motive e nos mantenha confiantes nos objectivos. Mesmo que o inglês arcaico não seja simpático, há sempre a convicção de que a escolha foi nossa, e que alguma coisa de boa há-de eventualmente sair dali! E quanto aos amigos, por mais difícil que seja, mais tarde ou mais cedo são sempre eles que estão lá para nos dar a mão.

E ao fim do dia, quando o desafio foi cumprido, e a decisão já teve a importância que tinha de ter, é bom olhar para trás e ver que nem tudo foi mau. É bom sentir que fomos donos de nós próprios, e que tomamos as nossas decisões, e que nos mantivemos por elas e defendemos as nossas convicções, e acima de tudo fomos nós. E mesmo que algumas delas tenham sido mal tomadas, e outras pudessem ter sido melhores, há sempre aquelas que nos deixam orgulhosos e reconfortados. E continuo sem gostar de tomar decisões, mas já que é facto que elas existem, vou querer ser eu a toma-las! E tenho a certeza que, um dia, só o simples facto de puder olhar para trás e respirar fundo no fim de uma nova tarefa, vai valer a pena!

Até lá, visto as minhas calças de pijama encorrilhadas, e regresso à minha dissertação de “direito contratual”, sem nunca negar que mal posso esperar pelo dia em que vou olhar para trás e pensar: consegui!

1 comment:

Anonymous said...

É sempre dificil tomar decisões e ainda mais quando essas decisões implicam outras pessoas. Mas são nossas... e assim sendo cá estamos nós para as defender.
E sim... no final sabe bem pensar " Eu decidi e consegui".
Tenho a certeza que no final é isso que vais dizer e que da tua decisão vão nascer muitos frutos bons!
Boa sorte!***