Monday, February 19, 2007

Então, os almoços?



Será que tenho verdadeiramente saudades de casa?




É claro que tenho saudades de me sentir pequenina, e de me sentir segura, e de experiênciar aquele “uff, cheguei a casa”, e de me sentar no sofa e finalmente fechar os olhos, e de ouvir alguém chamar-me para jantar e não haver surpresas desagradáveis porque a comida é feita pela mãe, e de um quarto a que posso egoísticamente chamar “o meu quarto”, e de discutir com o meu irmão, e de ter um irmão, e de adormecer com um beijinho de boa noite.

Mas a questão mantêm-se, será que tenho verdadeiramente saudades de casa?

Porque tenho saudades das facilidades, e tenho saudades dos mimos, e tenho saudades dos elogios e do apoio, e tenho saudades da cumplicidade, e tenho saudades dos lençois passados a ferro, e tenho saudades da companhia, e tenho saudades daquele abraço.

Mas será que isso é que é ter verdadeiramente saudades de casa?

Ter saudades da preguiça matinal, ter saudades de ter de sair do banho rápido porque vem um irmão a seguir, tenho saudades de ouvir porque sou desarrumada, ter saudades de chegar a casa depois de umas férias bem passadas, ter saudades de me sentir em casa.

São portanto verdadeiras saudades de casa?

Não sei.

E ja achei que sabia que não. E já achei que sabia que sim. Hoje simplesmente não sei.

E tanto como trocava tudo aquilo que consegui até agora por voltar para as facilidades e o conforto de se estar em casa, como não conseguia deixar esta minha nova casa. Porque não tenho pais, nem irmão, nem família, mas tenho amigos, e abraços, e confusão, e saudades quando eles se vão embora (mesmo que seja só por uma noite), e muitas coisas boas para partilhar quando eles voltam, e um conforto especial quando entro pela porta e me sento no sofá e sei que não estou sozinha. Também gosto da minha nova casa.

Tenho saudades de não ter saudades de alguma coisa. Tenho saudades do tempo em que não se tinha de deixar uma coisa para conseguir outra. Vou sempre ter saudades, e dizem que truque está apenas em conseguir viver, e bem, com elas. Mas eu, eu não acredito nisso, eu sei que o que o truque são almoços grátis!

2 comments:

El-Gee said...

Realmente, nao ha almoços gratias "makoka". Ha um custo de oportunidade para tudo. É horrivel. Nao ha nada que se tenha sem que se abdique de outra coisa.

Pelo que percebo do teu caso pessoal, saiste de casa e foste viver para Inglaterra, e as vezes debates-te com essa decisao, porque nao reunia o consenso de toda a tua familia, foi uma aposta tua.

Estas longe de casa, e adoras a tua vida aí, mas sabes o que deixaste para trás e a quantidade de coisas boas que nao tens, por teres saido de caso e ido viver para Inglaterra..

Dilemas..quem os lê, como eu, espera que a todo o momento andes sorridente com a decisao! Nao ha almoços gratis, mas ha almoços optimos e baratos! aproveita-os! diverte-te! Curte Inglaterra! Curte as vindas a casa!

Sarah Said said...

É verdade Makoka, aqui pelas Inglaterras nada parece fácil. Eu também sei como nos apetece sempre estar onde não estamos. Mas a verdade é que naqueles raros dias de sol em que se ve o esplendor verde dos campos a perder de vista, que só há por cá, ou como alternativa, se chega a casa e se pode deitar tudo para o chão, se pode fechar a porta do quarto com quem quer que seja lá dentro, até nos esquecemos dos almoços grátis.