“Little, vicious minds abound with anger and revenge, and are incapable of feeling the pleasure of forgiving their enemies”
Earl of Chesterfield
Cresci a ouvir que “a vingança é um prato que se serve frio”, e acho que é do consentimento geral que esta expressão sempre soou muito “posh” e como tal altamente apetecível.
Cresci portanto a idolatrar esta expressão, e nem um livro oportunista me fez achar que tal afirmação era um bocado...enfim, ultrapassada.
Como “é de pequenino que se torce o pepino”, esta doutrina começa a ser ensinada desde cedo aos mais novos, que acredito genuinamente que sejam os únicos que a elevam ao seu real estatuto. Assim, é natural que ao primeiro episódio de “ficaram-me com as minhas barbies”, a criança ponha logo os seus neurónios a funcionar, e, lembrando-se bem da doutrina, é óbvio que a “ladra” não espera pela demora! Portanto, quando as “cassetes da disney” não voltam ao destinatário, este já não se pode queixar porque se assume automaticamente que, e tendo sempre em conta a doutrina, a vingança é um prato que se serve muito frio! E às vezes, como neste caso, cai um bocado mal...
No entanto, e passada a idade da genuína inocência, chega a fase da genuína estupidez. Como seria de esperar, não há idade do armário que não traga com ela umas “vingançazitas” (às vezes bem merecidas), mas é de reparar que a doutrina continua muito bem implementada, mas desta vez tendo o seu significado mudado um bocadinho. Ora bem, estando eu a gozar o meu último ano de “adolescente irreverente”, é com gosto que ainda me incluo nesta categoria – apesar de esperar já estar numa fase um bocadito mais avançada do processo – e reconheço perfeitamente inúmeras vezes em que também eu (no passado) deturpei um bocado a doutrina. E quem é que não o fez? Aos quinze anos “passarem-nos a perna”, é uma coisa mais do que grave, é um dos fenómenos sociais mais arrasadores que podem existir, uma verdadeira tragédia. Aquando de um acontecimento tão catastroficamente catastrófico há que fazer alguma coisa para não perder a face, e aí sim, o facto de a vingança ainda estar no frigorífico dá muito jeito. O “então e tu não fazes nada?” fica logo arrumado com um “espera aí que a vingança serve-se fria”, e entretanto passa do frigorífico ao congelador, onde na maioria dos casos acaba por ficar eternamente.
Perdoar genuinamente a pessoa: nunca (!), mas já que a vingança não é uma coisa tão fácil como parece, ao menos deixa-se que o incidente morra aos olhos da sociedade, e pelo menos assim os outros já não pensam mais nisso! Não admira portanto que a maioria de nós já tenha uma arca frigorífica descomunal.
Ora bem, como cheguei à idade “séptica” das coisas – presumo que também faça parte – adoptei uma doutrina completamente diferente. Claro que isto pode igualmente ser visto como fruto de eu nunca ter sido grande jogadora nessas coisas de “vingança”, mas prefiro continuar a pensar que é da idade!
Enfim, estava eu a ouvir um plano maquiavélico de uma vingança (que se está mesmo a ver que nunca irá a lado nenhum), quando desenvolvi esta minha nova teoria: a vingança não é qualquer prato que se serve frio, é uma autêntica salada russa. Ora aprecie-se a receita: cortam-se as batatas e as cenouras aos cubinhos ( e não ficamos nós a moer todos os pormenores aos bocadinhos, até que devido às dimensões temos de parar senão teríamos quadradinhos em vez de cubinhos?), juntam-se as ervilhas (sim, que o feijão verde não é para mim – mas quem é que depois não põe ao barulho tudo o que aconteceu nos 20 anos anteriores, normalmente envolvendo antepassados quase todos já lá em cima?), por fim enfeita-se com um ovo cozido aos gomos (convém sempre depois dar assim um bom aspecto à coisa, que é para não fazermos muito má figura). Por último junta-se muita, muita mas mesmo muita maionese, e está prontinho para servir aos amigos mais íntimos (que irão certamente espalhar pelos seus amigos mais íntimos). Depois de comido, missão cumprida.
Estou portanto confiante de que quando esta fase passar, eu voltarei a acreditar em vinganças e teorias da conspiração e todas essas coisas que acabam por ser o real motivo porque nos levantamos da cama! ..sim, não me venham agora com histórias de “filhos”, e “felicidade” e “amor da minha vida”, já todos sabemos que o que faz o mundo andar à volta são as “mesquinhices”, as “histórias de vingança”, e o “sangue derramado”.
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