Monday, September 01, 2008

First International Conference on Domestic Violence in Pune




Há uma semana, o Asim disse-nos que tinhamos de preparar uma apresentação sobre violência doméstica. Foi totalmente inesperado. Ficamos tão irritados, que só conseguiamos insultar o Asim e as ideias dele! Olhando para trás, é preciso dizer que nem toda a nossa indignação foi exagero, tendo em conta que o Asim acha que por estudarmos em Inglaterra temos de saber tudo, desde o que estudamos até como se plantam batatas! Enfim...
Foi no meio de todos estes lamentos, e reclamações que nos decidimos a começar a pesquisa sobre violência doméstica. Para nosso sincero espanto, não é que até foi interessante? Não é que nós até gostamos de estudar aquela coisa? Passamos uma semana a ler artigos, e à procura de casos sobre violência doméstica para pudermos incluír na nossa apresentação.
Quando chegamos ao “escritório” e tentamos mostrar ao Asim o nosso trabalho, despaxado como sempre, ele disse-nos que não precisava de ler o nosso trabalho, que a única preocupação que nós precisavamos de ter é que o trabalho não fosse muito teórico, já que a nossa audiência ia ter problemas em perceber o nosso inglês, e nós não os queriamos própriamente a dormir! Mais uma vez, ficamos meio encavacados, porque, como já era de esperar, o nosso trabalho era bastante teórico! Tinhamos andado entretidos a perceber a lei, e como é que a declaração europeia sobre os direitos humanos podia influenciar, e a polícia, e isto, e aquilo...e de repente não era nada daquilo que tinhamos de falar!
Lá voltamos nós outra vez à pesquisa para tentar encontrar casos para puder expor na nossa apresentação. É preciso confessar que esta tarefa não se mostrou nada fácil! Mas lá conseguimos um caso ou outro, e rápidamente chegamos a conclusão que podiamos sempre manipular um bocadinho os factos! Quer dizer, afinal de contas estamos na Índia!
Na véspera da tal dita “conferência”, lá fizemos uma apresentação em powerpoint, mas sem grandes preocupações dado que nós estavamos convencidos que iamos ter uma pequena discussão com umas 10 ou 15 pessoas! Mal nós sonhavamos o sucesso que o nosso pequeno, e muito rústico, powerpoint iria ter!
Eram 10:30 da manhã quando entramos no escritório. Toda a gente parecia muito atarefada, e o Asim não tinha muito tempo para nos aturar. Ficamos a conversa com as nossas colegas indianas para ver se o tempo passava. Estavamos nós na amena cavaqueira quando o Asim declara “têm 10 minutos para escrever uma nota rápida para dar a imprensa”. Nota? Imprensa? Quantas!? “Sim, é que eles podem não ‘apanhar’ toda a informação que vocês estão a apresentar”. Havia alguma coisa que começava a não bater muito certo...



Lá fomos pelo trânsito infernal, até que finalmente conseguimos chegar à “Universidade de Direito”, onde fomos logo a correr até à sala (julgava eu) em que iamos informalmente expor as nossas modestas ideias. Não foi até chegarmos à porta da “sala” e sermos recebidos pela directora da Universidade que nos apercebemos da gravidade da situação! “Mas nós não sabemos nada....mas....mas....” Mas nada! Era tarde demais para nervosismos, tivemos de respirar fundo e entrar na sala...
Mal entramos na sala, os alunos (112, sim, eu contei!) começaram todos a bater palmas. Foi no mínimo confuso. E, como se as palmas não bastassem, ainda recebemos flores e uns relógios (muito foleiros) como prenda de agradecimento por lá irmos falar. Foi aí que eu começei a ficar mesmo confusa! Então agora agradecem-me por ir falar com alunos de direito sobre um assunto que eu pesquisei uma semana? Alunos que, ao contrário de mim, já estudam direito à mais de quatro anos?
Porque na Índia as surpresas nunca podem ficar por aqui, antes de eu começar a dar a minha apresentação o Asim disse-me: “ah! Se não te importas dá uma pequena introdução acerca da situação em termos de violência doméstica em Portugal”. Pronto, foi a gota de água! Então eu que mal vivi em Portugal, nunca estudei direito português, tinha de ir falar sobre a situação em Portugal? Já faltou mais para a plantação de batatas...
Fui controlando o meu nervosismo enquanto o Graham, que foi o primeiro a apresentar a parte dele, falava dos procedimentos da polícia. Espantosamente a minha apresentação não correu mal, tive a sorte de o meu anjo da guarda me ter ligado na noite anterior, e de a conversa ter resultado em ela me dar umas estatísticas malucas de violência doméstica em Portugal, que eu utilizei na minha apresentação! Numa mistura de prática e teoria, a apresentação lá correu bem... Aliás, as nossas quatro apresentações correram tão bem que no final até tivemos direito a ser levados a almoçãr num restaurante todo pi-pi, pela directora da Universidade e os seus subordinados!

Por sorte, só no fim deste dia complicado é que olhei para trás e reparei que no cartaz exposto na parede se podia ler: “Key Speakers: Asim Sarode, Martha Almeida, Graham Hargreaves”. “Thank you very much for coming from the UK to talk to us about this”, e, mesmo tendo em conta que as razões que me levaram a vir à Índia estavam longe de uma confêrencia sobre violência domestica, “it was our pleasure, thank you for what turned out to be an amazing experience”.

E foi assim que, pela primeira vez fui uma “guest speaker”, e não foi num evento qualquer (!), eu fui um dos convidados of the first international conference on domestic violence! Cheers!


HRLD

HRLD, this is the name of the NGO me and Graham were placed at. Asim is the head of this NGO, or at least we assume so, since he was the one who first introduced us to the organisation, and who told us what it was expected of us. An inspirational, and charismatic person, Asim first started by telling us that he used to have 6 lawyers working for him, but now only has one along with some other social workers. This statement begs the question: “what happened to the other lawyers?” Apparently they wanted different things: “I believe that the courts are designed for there to be justice, not for lawyers to make money”. According to him, the lawyers who were working with him were quite happy to ask for money from the poor people who were seeking some kind of help in HRLD.

When someone introduces himself in such a strong way, you can’t but have a strong admiration for that person from day one. His phone does not stop ringing during our conversation, and from what we could get (since none of us speaks Marathi), he kept saying he would call them back. This organisation works will various issues within Human Rights Law, giving the impression that they work “for the poor people”, meeting the demands of the general public.

We don’t know yet how useful we will be to such an organisation. I have only just finished my second year in English Law, and Graham has recently graduated from International Relations. None of us knows a lot from the Indian Reality (apart from the constant information, and reality slaps that we have been getting for the past two weeks), and we are still unsure as to how we can actually help.

Feeling pretty ignorant and useless, Asim told us that we might be useful in helping him do some research, as he intends to draft a bill in Victim and Witness Protection. This is our project: to research the Victim and Witness protection schemes in the UK and US, and then see how they could eventually adapt to the Indian Reality. Seems like a lot of work, let’s hope it all works out...
First impressions are confusing: we like the place, we like the people, but it is hard living and working in a world where no one understands you, and vice-versa. Marathi is far too complicated to be learned within a month, and smiles and gestures aren’t getting us very far! As Sarah would say, this is “a true Indian experience”!

...and without us noticing, 2 months have now gone by...

Monday, August 04, 2008

Comboios na India





Há quem considere alucinante uma volta na montanha russa, há quem dê tudo só para sentir aquela adrenalina, o pânico misturado com a excitação de testar os nossos limites. No entanto, e eu que posso dizer que já andei numas quantas montanhas russas, desafio todos esses valentes a experimentar uma viagem de comboio na Índia! E não precisa de ser uma viagem de comboio grande, daquelas em que há dormida e tudo, basta uma viagem de 10 ou 15 minutos para levar o teste aos vossos limites a um nível completamente diferente!


Ora, eu, como já era de esperar, tive essa experiência. Antes de entrar-mos na estação, as raparigas foram avisadas: “Se alguém fizer alguma coisa indecente, batam-lhe. Não, mas a sério, acertem-lhe com força e insultem-no que as pessoas juntam-se a vocês e o problema fica resolvido”. Até hoje, felizmente, ainda não tive de recorrer a estes recursos, mas pelas histórias que tenho ouvido, é uma prática bastante usual!

E claro que quando se ouve este aviso mal se entra numa estação de comboio, os níveis de adrenalina começam logo a subir por todos os motivos errados: pânico, alguma coisa vai correr mal! E a multidão, os empurrões, o lixo amontoado ao lado das escadas, as tendas montadas por todo o lado, as crianças a pedir à volta dos pais que dormem no chão, e no meio de toda esta confusão, uma vaca passeia-se sem que ninguém ache que é um fenómeno estranho! E comprar bilhetes é outra aventura, onde é tudo ao molhe e fé em deus, e todos os buracos são espaço para mais um tentar comprar o bilhete à frente dos outros.

De bilhetes comprados à que encontrar a estação. Qual é a linha? A Plataforma? Qual linha, qual plataforma! Há umas letras suspensas no ar, uns A e B, ou qualquer coisa assim parecida. De qualquer maneira, mesmo que houvesse mais, ninguém conseguiria ver no meio daquela multidão. Depois de muitas perguntas acompanhas por gestos, lá conseguimos chegar à estação. Na estação as mulheres ficam de um lado e os homens do outro. Tudo parece pacífico e não há nenhum comboio na linha. Quando fui confrontada com aquele cenário, onde até me disseram que há uma carruagem para homens e outra para mulheres, não percebi qual era o grande drama de andar de comboio. Afinal somos todos civilizados, pensei eu!

Estava eu neste meu descanso quando vejo um comboio a aproximar-se e pouco mais. Digo pouco mais porque mal eu vi o comboio já estava embrulhada numa marabunta de gente que arranha, empurra, esmaga, só para conseguir um lugarzinho naquela carruagem cheíssima de gente, que está preparada para fazer tudo o que for preciso para sair naquela estação. 40 segundos têm de ser suficientes para quem quer sair e quem quem entrar, é a lei da selva! Entre berros, arranhões e uma luta desenfreada lá consegui entrar no comboio. Entretanto tinha-me perdido das minhas amigas, e só depois de algum tempo dentro da carruagem é que as consegui localizar.
Já dentro da carruagem senta-se quem pode, e os outros sujeitam-se. Sujeitam-se aos empurrões dos que querem sair, dos que acabaram de entrar, dos que querem vender as suas coisas, dos que querem pedir dinheiro aos turistas, e daqueles que simplesmente não sabem bem o que estão ali a fazer. Eu , confesso, encontrava-me nesta última categoria! Ouvir as palavras “we are getting off at the next stop” foi aterrorizador.

O pânico, o drama, o medo do desconhecido...isto tudo junto faz com que a viagem seja inesquecível! E de repente, quando o pânico ainda nem teve tempo de se instalar, lá vai a marabunta outra vez, e os gritos, os arranhões, o salve-se quem puder! Mas da segunda vez custa menos, da segunda vez o efeito surpresa já lá não esta... Mesmo assim, não deixa de ser uma experiência...intensa.E quando voltamos à viagem de comboio, desta vez com alguém que ainda nao experimentou, a piada está em ver-mos neles o pânico do desconhecido que eu bem conheci. E nessa altura, já eu berrava, e dava instruções, e a acalmava, tal como me fizeram da minha primeira vez. Porque na India somos todos uns treinadores de bancada!








Thursday, July 31, 2008

Monday, July 28, 2008

Meninos Ricos, Meninos Pobres...




Completamente alienada, sentada num café ontem, a trabalhar num trabalho de pesquisa no meu computador, dou por mim a olhar pela janela, onde do outro lado estavam dois meninos. Vestidos da mesma maneira, de idades claramente diferentes, e com algumas parecencas, pressupus que fossem irmaos. Estavam os dois fascinados com os computadores que tinhamos em cima da mesa, e achavam hilariante o facto de estarmos os dois a estudar e a escrever no computador. Tudo isto era fascinante aos olhos deles.


É fácil de perceber porque é que nos começamos a sentir desconfortáveis. Com que direito estavamos nós, na terra deles, dentro de um café de luxo, com ar condicionado e outros requintes que tal, a olhar para dois meninos do outro lado do vidro, que andaram provávelmente a pedir o dia inteiro, e não se cansavam de olhar para os nossos computadores. É uma realidade aterradora que nos faz pensar constantemente.


Talvez por descargo de consciência, ou por ser a única atitude admissível numa situação daquelas, levantamo-nos e fomos comprar dois bolos de chocolate: um para cada menino. Como já era de esperar, eles ficaram radiantes com o bolo de chocolate que lhes demos. E dar um bolo de chocolate a dois meninos esfomeados não nos faz sentir melhor, ou menos mal, num clima de extrema pobreza como este. O que são dois meninos no meio do mar de pedintes, e pessoas com vidas miseráveis que vemos todos os dias?


E pessoas como nós vêm do ocidente, secalhar convencidos de que vêm mudar o mundo deles, com ideias feitas e certos preconceitos em relação à realidade indiana, para ao fim de contas levarem chapadas (bem merecidas) da realidade nas trombas. É fácil dizer que o mundo é injusto, quando estamos sentados no sofá, com uns ténis da nike e uma saia da miss 60; é fácil falar da pobreza e do desemprego do alto de um pedestral; é facil congeminar teorias e outras coisas que tal em relação aos países do terceiro mundo; tudo é facil quando não temos que lidar com a realidade das coisas no dia a dia. Longe de pensar que agora sim, já percebo tudo e já posso falar, longe de puder sequer começar a imaginar quão difícil é para estas pessoas sobreviver, ao ter-mos de conviver com esta cruel realidade todos os dias, é impossível fechar os olhos e fazer de conta que é tudo um mito que se há-de resolver um dia com filosofias, tratados e coisas que tal...

Bombay: a week later




First set the mood with some Peter, Paul & Mary: Very Last Day. Ou melhor, vao em frente e oucam o album todo! Go tell it on the mountain!

It has been an impossibly busy week, hence the lack of writing. On top of that it was been a long time since I actually turned on my computer, so even typing seems weird! I guess India does this to people... Has professor Cazzinelli would have said: “time flies when you are having fun” and curry!

Between 9 to 5 lectures about sexuality, microfinance, law, economics, and all other interesting (but long and complicated topics) we are blessed with tea and curry for the hungry ones! Curry rice in the morning, curry at lunch, curry at dinner...curry at every meal! In fact, there is no other food available...if you want to eat, you better learn how to eat curry.

Enfim..nao tem sido facil a adaptacao a comida, aos horarios, ao clima, aos banhos de agua fria, e a todas essas pequeninas coisas que me fazem sentir tao longe de casa! Mas numa pagina bem mais optimistica, nunca teria eu sonhado ter uma experiencia tao estranha e diferente. Sim, estranha....porque nao eh todos os dias que nao se consegue encontrar um fato de banho, a nao ser um vestido de baile impermeavel com uns calcoezinhos e uma touca muito foleira que nem a minha avo usaria (!), porque as mulheres na india ainda nao tem estatuto para ir a piscina. Sim, porque nao eh todos os dias que eh preciso uma fotocopia do passaporte e respectivo visa para se conseguir um cartao de telemovel, por causa da mafia e do mercado negro. E tambem nao eh todos os dias que vemos vacas a passearem-se por entre as pessoas que dormem no chao da estacao do comboio. E enquanto algumas destas experiencias sao hilariantes, outras servem para nos abrir os olhos para uma ex-colonia que foi deixada na miseria, com uma populacao que luta de forma fascinante contra a pobreza.

“Nao lhes dem as garrafas de agua vazia, e muito menos dinheiro”, dizem-nos os organizadores da minha pequena aventura. Mas como eh possivel ver criancas de 6 ou 7 anos a pedir na rua, e nao fazer nada quando para nos 10 rupias nao significa nada? Como eh possivel ignorar a pobreza em que a maior parte desta sociedade vive e andar em frente? Se bem que as intencoes sao as melhores, dado que as garrafas de agua vazias servem para as criancas porem cola la dentro para depois se dograrem, e o dinheiro pelos vistos serve para comprar a respectiva cola. Ha quem, inteligentemente, va com as criancas comprar comida para se certificarem das boas intencoes.

E no meio disto tudo, aparecem uns extra terrestres, para quem tudo e barato, e tudo eh facil! E vao as compras, e protestam os precos, e dizem ola, e vieram voluntariar-se durante dois meses para a India, com a unica certeza de que eles se vao embora! E estranho ser esse extra-terrestre. Um extra-terreste que tem de ter cuidado, e nao andar com decotes, ou saias curtas! Um extra-terrestre que vagueia meio perdido por uma multidao que parece ja estar habituada...

Uma semana e pouco para uma pessoa se conseguir adaptar a esta realidade. E complicado compreender, e acima de tudo aceitar, este mundo diferente e estranho!

Monday, June 16, 2008

DHRI

"You are crazy in the head" foram das primeiras palavras (simpáticas) que ouvi quando comuniquei que tinha decidido aceitar entrar num programa de voluntariado na Índia. As indiscritiveis expressões que surgem logo depois das palavras "sim, mas vou agora 2 meses para a Índia em regime de voluntariado", não têm preço! Conclusão, tenho a humanidade, tirando mais uns 30 "crazy in the head" como eu, e mais um ou outro mortal, contra a minha aventura!

DHRI, também conhecido por, Development of Human Rights in India, é uma organização que teve início em 2007. Tem como propósito levar estudantes Ingleses, Americanos ou Canadianos (ou até mesmo, como no meu caso, estudantes de outras nacionalidades que estudem num destes países), até à Índia, onde são integrados numa ONG em regime de voluntariado. Parece giro, quão giro ainda estou eu para ver!

Candidatei-me por volta de fevereiro, como uma brincadeira, só para ver se entrava. Resultado: entrei, e do entrar ao contar às primeiras pessoas e isso resultar em eu ter decidido ir foi um instante! E a brincar, já lá vai um mês em constante preocupação do que será viver 2 meses na Indía!

Muito pior do que pagar para ser explorada, e muito mais assustador do que a ideia de viver 2 meses num país totalmente desconhecido, são as duas vacinas que vou ter de tomar hoje de tarde! O sofrimento é muito!

Hoje não, porque o Instituto de Medicina Tropical já me espera, mas dentro de pouco tempo hão-de surgir algumas actualizações sobre a minha vida nesse país longínquo... E agora sim, vou dar o verdadeiro sentido à expressão "não há almoços grátis"!

E a unica coisa que me consola é saber que tu
vais estar pior, muito pior do que eu,
algures na mongólia! ;)