“ – Que idade tens?”
“ – 22”
Vinte e dois anos. Vinte e dois anos que para mim não são nada mas que para o puto reguila são uma eternidade. Vinte e dois anos que me valem um olhar de desprezo de um ser de palmo e meio que me acha velha. Vinte e dois anos que de repente já fazem uma barreira entre o “nós” e “eles”. Vinte e dois anos e “eles” já olham para mim como se eu tivesse idade não de estar a dar mergulhos no mar, mas de estar debaixo do guarda-sol a empanturrar o meu (inexistente) puto reguila de bolas de Berlim e batatas fritas.
Mas não penso mais nisso nem no puto reguila. Estou contente com o meu ar de criança, o meu medo da responsabilidade, a minha pretensa rebeldia, os meus sonhos megalómanos, os descontos para jovens, a minha falta de capacidade de gestão financeira, e os meus vinte e dois anos.
Até hoje.
“- Sim, porque já tens vinte e dois anos, já tens idade para decidir tudo, e fazer tudo, e (…) sim, porque tens vinte e dois anos”
Vinte e dois anos. Vinte e dois anos que levam um adulto a dizer-me que já sou crescida. Vinte e dois anos que me obrigam a ter direito a ter tantas responsabilidades e coisas complicadas. Vinte e dois anos e estão à espera que eu faça coisas. Vinte e dois anos e de repente um crescido acha que já sou crescida. Vinte e dois anos e de repente já quase que sou gente.
E eu, que mal ultrapassei a conversa do puto reguila, eu que ainda não sei fazer contas nem gerir as minhas finanças, eu que ainda beneficio do estatuto de estudante nos cinemas e comboios da CP, constato que ainda não sei ser grande. É que eu sei ter atitude e ser rebelde, sei fazer o que me apetece sem dar justificações, sei conseguir o que quero mesmo que os outros não queriam o mesmo, sei ser eu...mas ouvi dizer que ser crescida é outra coisa.
E agora? O que faço agora que ouvi dizer que tenho Vinte e Dois Anos?
"With many years ahead to fall in line
Why would you wish that on me?
I never want to act my age
What's my age again?
What's my age again?"
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