Olho para ela e sinto pena. Pena da vida miserável que ela pensa que leva, pena de todo aquele teatro cínico e angustiante, pena do esforço que é para ela acordar todas as manhas. Sinto pena dela, mesmo sabendo que ter pena de alguém é talvez o sentimento mais miserável que se pode ter pelo próximo. No entanto, não consigo ir para além da pena, da tamanha pena que sinto por ela.
E todos os dias se levanta a queixar-se, e todos os dias tudo corre mal, e todos os dias vão ser piores que o anterior, que já de si foi tão mau, e todos os dias são trágicos e arrebatadores, e todos os dias pede a deus que o dia corra bem, e todos os dias deus a desilude com o dia a ser igual ao anterior. Todos os dias o ar carrancudo é o mesmo, todos os dias a vontade de (não) viver é a mesma, todos os dias a indiferença por aqueles que a rodeiam é a mesma, todos os dias são dias não. E todos os dias ela fala com as mesmas pessoas, a quem faz as mesmas perguntas e dá as mesmas ordens. Todos os dias.
E eu todos os dias olho para ela, e todos os dias falo com ela, e todos os dias lhe respondo ás mesmas perguntas que ela me faz todos os dias, e todos os dias me vou deitar com o mesmo sentimento de indiferença com que acordei. Todos os dias.
E todos os dias eu queria sentir mais, queria gostar mais, queria ter mais saudades, queria viver mais, queria tudo aumentado exponencialmente no que toca ao meu relacionamento com a minha alma penada. Todos os dias gostava que ela fosse diferente, e me contasse coisas divertidas sobre todos aqueles mundos em que eu nunca vivi, e que me fizesse estupidamente as vontades, e que gostasse de estar comigo e de me ver, e que se risse de vez em quando se não fosse pedir demais, e que a vida não lhe custasse tanto, e que fosse essas coisas todas que é suposto os avós serem. Todos os dias, eu só queria que aquela avó fosse uma avó de verdade.
E todos os dias se levanta a queixar-se, e todos os dias tudo corre mal, e todos os dias vão ser piores que o anterior, que já de si foi tão mau, e todos os dias são trágicos e arrebatadores, e todos os dias pede a deus que o dia corra bem, e todos os dias deus a desilude com o dia a ser igual ao anterior. Todos os dias o ar carrancudo é o mesmo, todos os dias a vontade de (não) viver é a mesma, todos os dias a indiferença por aqueles que a rodeiam é a mesma, todos os dias são dias não. E todos os dias ela fala com as mesmas pessoas, a quem faz as mesmas perguntas e dá as mesmas ordens. Todos os dias.
E eu todos os dias olho para ela, e todos os dias falo com ela, e todos os dias lhe respondo ás mesmas perguntas que ela me faz todos os dias, e todos os dias me vou deitar com o mesmo sentimento de indiferença com que acordei. Todos os dias.
E todos os dias eu queria sentir mais, queria gostar mais, queria ter mais saudades, queria viver mais, queria tudo aumentado exponencialmente no que toca ao meu relacionamento com a minha alma penada. Todos os dias gostava que ela fosse diferente, e me contasse coisas divertidas sobre todos aqueles mundos em que eu nunca vivi, e que me fizesse estupidamente as vontades, e que gostasse de estar comigo e de me ver, e que se risse de vez em quando se não fosse pedir demais, e que a vida não lhe custasse tanto, e que fosse essas coisas todas que é suposto os avós serem. Todos os dias, eu só queria que aquela avó fosse uma avó de verdade.